Uma apresentação musical fresca e plena de energia e espacialidade.
Audições
Os Shunyata Theta foram inseridos no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus, alimentado pela fonte de alimentação Ferrum Hypsos, com o iFi Audio Pro iDSD como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as Diptyque DP 140MkII, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com o AudioQuest Thunderbird ligado entre o iFi Audio Pro DSD e o prévio da Constellation. Os Theta substituíram os Kimber KS-3035 que utilizo nas colunas já há bastante tempo. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o amplificador de potência da Constellation alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. O Silent Power LAN iPurifier Pro , acompanhado pelo cabo de Ethernet AudioQuest Cinnamon, tomou conta das ligações à Internet.
Embora a extensão na reprodução da gama de frequências – particularmente nos graves – seja excelente, os primeiros aspectos que notei ao ouvir os Theta no meu sistema foram a clareza das vozes, a expressividade dos detalhes dos médios e uma energia sonora mais pronunciada «dentro da sala» O padrão principal que utilizo para aferir da clareza de médios são as vozes femininas, mas, neste caso, as minhas primeiras notas de audição resultam do piano. Há já algum tempo que não recorro a gravações com a etiqueta de “audiófilas”, mas o CD Nojima Plays Liszt [Reference Recordings], de que tanto gosto, destacou as áreas em que os Theta se definem tão bem. Não é apenas a dinâmica de execução, embora esta seja impressionante, ou a precisão do timbre. É que a sua presença no sistema transmite a sensação deste instrumento como uma entidade musical complexa por si só; o som dos martelos a bater nas cordas, a ressonância da própria caixa do piano e as ligeiras batidas dos dedos nas teclas. Existem muitas gravações em que o piano é captado (e a gravação igualmente realçada em estúdio) de modo a soar demasiado vivo e excitante, com um som claramente Hi-Fi, mas neste disco da Reference isso não acontece e foi interessante constatar como os Theta «respeitaram» todo o cuidado tipo na produção e me apresentaram um piano «como deve ser»: imponente quando necessário, com um som de caixa na proporção correcta, e cheio de nuances nos detalhes mais ínfimos.
Mas claro que não deixei de ouvir uma das minhas vozes favoritas, a de Madeleine Peyroux, cantando Dance Me To The End of Love. E ouvi esta faixa por duas vezes porque o prazer musical foi intenso – a voz de Madeleine soou limpa, maviosa, como aquela entoação tão bonita que ela transmite quando como que prolonga as vogais no final de cada frase ou em qualquer palavra a que a contara pretende conferir um sentimento ainda maior que aquele que Cohen lhe tinha conferido. Esta é uma voz que encanta e os Theta fizeram-lhe jus.
Falo agora de outra área da minha predilecção, o jazz, e aqui destaco o modo como ouvi com uma nitidez e relevância notáveis as notas de piano de Horace Parlan em Pussy Cat Dues -Charles Mingus (FLAC, 192 kHz/24 bits), mesmo quando o instrumento quase que apenas murmurava para mim, isto combinado com uma focagem extremamente precisa dos diversos instrumentos dentro do palco espacial e uma espontaneidade individual, natural no jazz, que se manifesta ao mesmo tempo numa firme consistência de alento e ritmo que no final causa como que um encantamento em quem está do outro lado mas nem sequer dá por isso, de tal modo está imerso nas diversas formas da expressão musical. A combinação de naturalidade com uma grande rapidez de transmissão de informação é uma das características mais salientes destes Theta.
Destaco agora a audição da faixa Cousin Mary, de Coltrane, presente no disco Giant Steps (96 kHz/24 bits), uma homenagem a Mary Lyverly, prima de Coltrane, de que destaco a maneira tão evidente como as duplas notas do contrabaixo de Paul Chambers foram reproduzidas, algo que raras vezes acontece com clareza, já que muitos sistemas (e cabos) fazem com que o dedilhar das duas cordas quase em simultâneo ocorra de uma maneira meio «embrulhada», tirando toda a verve àquilo que é uma das provas de virtuosismo de quem toca o instrumento. Ou seja, se o instrumentista é bom, os Theta estão à sua altura.
E volto à música clássica, neste caso falando da audição das Danças Sinfónicas, de Rachmaninoff, reproduzidas a partir do excelente LP da Athena, com uma entrada verdadeiramente assoberbante que extrai o melhor que as Diptyque podem dar nos graves e que os Theta acompanharam com grande à vontade, para, por volta dos 4 minutos entrar numa reprodução extremamente nuanceada de instrumentos de sopro, dos quais se destaca a flauta que foi reproduzida com uma grande beleza e extensão, para passar mais à frente, cerca dos doze…treze minutos, a uma linda valsa, sendo interessante o modo como os Theta acompanharam todos os diversos tipos de movimentos, muitas vezes com intervenção, como dizia o compositor, do “maior número de instrumentos possível”, com extrema naturalidade, como peixe na água.
Conclusão
Os Shunyata Research Theta são uns cabos que combinam uma frescura muito grande na apresentação musical com uma notável velocidade de transcrição de notas e uma espacialidade bem alargada. Têm um preço que está decididamente fora das loucuras, mas um desempenho que os colocam ao lado de muitos com essas pretensões, do High-End e podem seguramente fazer um bom sistema tocar ainda melhor. Não desmereceram dos Kimber bem mais caros que conheço tão bem e justificam, portanto, uma audição atenta por todos aqueles que estão a pensar fazer um upgrade ao seu sistema. Plenamente recomendados.
Cabos de coluna Shunyata Theta
Preço (2,5 m) 2700 €
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