Um palco sonoro particularmente impressionante, não apenas na sua dimensão mas também na precisão de colocação de cada instrumento.
Dediquei-me em seguida ao disco de 2014 The Singles Collection 2001-2011, dos britânicos Gorillaz, criação muito original de Damon Albarn, mais conhecido por ser vocalista dos Blur. E a música electrónica revelou ser uma escolha muito acertada para combinar com estas 3020c - as capacidades de imagem e de palco destas monitoras revelaram-se perfeitas para este estilo de música, com uma sensação de espaço muito grande. Também na parte rítmica, onde li algumas críticas online, achei que as 3020c reproduziram esta música mais dançável e upbeat com uma energia contagiante e não senti falta de nervo ou de rapidez de resposta, bem pelo contrário.
Indo em busca de algo contrastante com as audições anteriores, e desta vez munido de Qobuz (que bom finalmente podermos desfrutar de Qobuz Connect, até porque a aplicação nativa do Qobuz está felizmente cada vez mais rica em metadata), ouvi um disco de 2007 do grupo coral The Norwegian Soloists’ Choir intitulado Grieg: Choral Music (24 bits/ 44,1 kHz), nome que creio não necessitar de esclarecimento. Música do melhor que já foi feito pela humanidade, muito bem gravada pela BIS e que voltou a demonstrar as excelentes capacidades espaciais das 3020c, sem dúvida o seu trato mais evidente. Também o timbre das vozes é bastante realista, assim como a sua separação - as 3020c permitem apreciar devidamente a complexa e lindíssima polifonia do compositor norueguês. As dinâmicas pareceram-me perfeitamente adequadas para a gama em que as 3020c se inserem, com uma boa resposta às variações de volume e intensidade que o coro norueguês proporciona.
Para terminar, e tendo em conta as características que tinha ouvido desta coluna até agora, resolvi ouvir In Rainbows (24 bits, 44,1 kHz) dos britânicos Radiohead, uma banda cuja complexidade instrumental e incorporação de componentes da electrónica me pareceu que iria casar muito bem com as 3020c - e não me enganei. Em particular, no tema Weird Fishes / Arpeggi - o crescendo de «vozes» (no sentido musical do termo, não literal) simultâneas nunca é um problema para estas monitoras, cuja separação instrumental é de facto notável. Também os súbitos crescendos dinâmicos, fruto das habituais mudanças súbitas e contrastantes de ambiente dos Radiohead, foram sempre bem acompanhadas pelas 3020c, que nunca deixaram perder o sentido musical que esta música tão particular necessita. Um destaque final ainda para os excelentes timbre / transientes das batidas de Philip Selway, quer na sua componente mais electrónica quer na sua componente mais acústica.
As Q Acoustics 3020c são uma boa proposta no (muito) concorrido sector das monitoras em volta dos 500 €, com um particularmente impressionante palco, não apenas na sua dimensão mas também na precisão de colocação de cada instrumento - a fazer lembrar colunas muito mais caras. Se se portaram mais do que à altura no rock e no jazz, foi na pop e na electrónica que mais senti que brilharam, pelas suas superlativas capacidades espaciais - sendo que muitas pessoas hoje em dia ouvem quase exclusivamente estes géneros, tendo aqui uma escolha difícil de bater nesta gama de preço. A única melhoria que gostaria de ver seria graves um pouco mais fundos - o que talvez seja injusto da minha parte, se tivermos em conta o preço. De qualquer forma, como referi acima, os graves que têm são muito bem definidos e isso nem sempre acontece com monitoras mais acessíveis - e é também de notar que a resposta de graves varia muito com a sala em que se ouve e com o restante equipamento, sendo portanto possível que em outras circunstâncias as 3020c tenham outro comportamento nesta gama de frequências. Para além disso, a Q Acoustics oferece também o muito acessível subwoofer 3060S, que me parece poder ser um excelente companheiro para estas 3020C, sendo possível assim construir um sistema full-range a um preço muito agradável.
De entre os produtos que já testei, e aqui estou apenas a teorizar, consigo imaginar que juntá-las a um amplificador integrado Rotel A8, precedido de um streamer MXN10, da Cambridge Audio, faria um excelente conjunto de introdução à alta-fidelidade. Estas 3020c, aliás, deixaram-me curioso para ouvir outras propostas da marca, nomeadamente as torres, que geralmente seguem um conceito D’Appolito, algo que muito me agrada. Em resumo, mais uma muito boa opção a ter em conta no mercado das monitoras acessíveis, justificando plenamente uma audição muito atenta na loja da Audio Team, ali em Benfica.
Colunas Q Acoustics 3020c
Preço 459 €
Distribuidor Audio Team