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Orpheus A Four I200

Orpheus A Four I200

João Zeferino

6 abril 2025

O encantamento de Orfeu


Audições

O Orpheus Absolute Integrated foi ligado ao streamer Aurender A20. Como fonte analógica esteve o gira-discos Project Xtension 10 Evolution com cabeça Hana ML e prévio de phono Elac PPA-2. A dar voz ao sistema estiveram as colunas Perlisten Audio S7t, bem como os auscultadores Mr. Speakers Aeon Flow Open. A cablagem incluiu os cabos Kimber Select KS-1121 e Kubala-Sosna Fascination nas interligações analógicas, e nas colunas os habituais Kimber Select KS-3033.


                                Lista de obras escutadas durante as audições:


• J. Brahms, Sinfonia nº 4, Orq. Sinfónica de Berlim, H.V.Karajan, Qobuz
• G. Mahler, Das Klagende Lied, Coro e Orq. RSO Berlim, Riccardo Chailly, Qobuz
• J. S. Bach, Toccata e Fuga em ré menor BWV565, Jean Guillou, Qobuz
• G. Mahler, Sinfonia nº 3, Coro e Orquestra Sinf. Rádio Frankfurt, Eliahu Inbal, Tidal
• L.V. Beethoven, Concerto nº 4 p/piano e orq. em Sol, Op. 58, Maria João Pires, Orq. Sinf. Rádio Sueca, Daniel Harding, Qobuz
• Max Bruch, Conc. p/violino e orq. n.º 1, Anne-Sophie Mutter, Orq. Fil. Berlim, H.V.Karajan, Qobuz
• S. Prokofiev, Conc. Piano e Orq. nº 2 em Sol menor, Op.16, Alexander Toradze, Orq. Mariinsky, Valery Gergiev, Qobuz
• A. Bruckner, Sinfonia nº 8, Orquestra Filarmónica de Viena, Carlo Maria Giuini, Qobuz
• Diana Krall, The girl in the other room, Tidal
• Patricia Barber, Modern Cool, Qobuz
• Joe Morello, Take Five, Tidal
• Mike Oldfield, Tubular Bells, LP, Virgin Records
• Michel Camilo, Portrait, LP, CBS Records
• Pink Floyd, The Final Cut, LP, CBS Sony


Iniciei as audições com o concerto para violino e orquestra de Max Bruch, uma gravação do início da era digital com muitos dos defeitos das gravações desse tempo, nomeadamente um registo agudo por vezes agreste, que confere um brilho excessivo às cordas, principalmente violinos, e que convida a baixar a volume como medida de protecção dos ouvidos. Contudo, tal como essa gravação, há uma boa colecção de outras de características semelhantes que continuo a ouvir com genuíno prazer por força da interpretação dos solistas e/ou orquestras.

Foto 5 Orpheus I200

O Orpheus Absolute Integrated presenteou-me com uma reprodução musical que me deixou perplexo e curioso sobre se aquele seria um caso isolado ou uma qualidade do próprio amplificador. Depois desta passei a duas gravações que exibem um carácter semelhante, a 4ª sinfonia de Brahms, com a filarmónica de Berlim e Karajan, e a 8ª Sinfonia de Bruckner com a filarmónica de Viena e Giulini, todas elas gravações originais DG, agora disponíveis nas plataformas de streaming.

A reprodução dos naipes de cordas surgiu sempre limpa, extensa, com notável resolução, mas sem manifestar a agressividade que tão incomodativa pode ser com outros equipamentos. Curiosamente nunca me pareceu que a suavidade dos registos médio-altos e agudos fosse consequência do arredondar da resposta em frequência como por vezes acontece. O Orpheus provou sempre um registo agudo suave mas não doce, extenso, resoluto e timbricamente verdadeiro, que faz jus às boas gravações mas não intimida nem se intimida perante as menos boas.

Equilíbrio é a palavra-chave. Como é notório que nenhumas frequências do espectro assumem uma evidência forçada em detrimento de outras, a todas é conferida igual importância, de onde resulta uma notável transparência global sobre a reprodução do evento musical. A dinâmica é desenvolta e o amplificador responde rápido às solicitações do sinal, o que acaba por conferir à reprodução musical um sentido de ritmo bem marcado e um fluir do discurso musical de notável liquidez.

Num registo totalmente diferente da grande orquestra, a Toccata e Fuga BWV565 de Bach por Jean Guillou, uma gravação original da Dorian, mostrou bem como o registo grave do amplificador é extenso, controlado e articulado, num perfeito domínio quer das colunas quer das forças sonoras em jogo, sem nunca perder a compostura, ou seja, sem apresentar quaisquer traços de agressividade ou esforço sentido, antes, demonstrando sempre uma lucidez nos registos superiores, do que resultou uma reprodução do grande órgão de tubos perfeitamente convincente na sua característica grandiosidade.

O Orpheus não se destaca como o amplificador mais poderoso, com o grave mais extenso, o agudo mais doce ou o palco mais largo que já ouvi nesta gama de preços. Todavia, demarca-se da concorrência pela forma como exibe o conjunto destas características de um modo coerente, unificado e sabiamente doseado, numa palavra, verdadeiro.

O sentido de textura, palpabilidade e densidade harmónica está muito acima do que é habitual num produto deste escalão e contribui para uma reprodução de música que tem algo de vivo, de orgânico, de verosimilhança com o evento musical e nos convida a audição de peça após peça apenas pelo puro prazer da descoberta de uma nova interpretação de gravações que julgávamos conhecer na sua plenitude e que somos obrigados a constatar que, no final das contas, ainda tinham algo de novo para nos oferecer.

Foto 4 Orpheus I200

A transparência está a um nível superlativo. Com uma resposta essencialmente neutra, e uma fidelidade tímbrica absolutamente notável, permite que foquemos a nossa atenção num instrumento ou naipe de instrumentos no contexto de uma orquestra sinfónica de um modo absolutamente invulgar e raro a este nível de preços.

Voltando ao concerto para violino e orquestra de Max Bruch, e como já referi, não é assinalável qualquer evidência de arredondamento no extremo agudo, contudo, é possível com outros amplificadores perceber de forma mais nítida o roçar do arco na corda do violino solista. Isso traz alguma mais-valia? Não creio; até porque numa audição ao vivo, mesmo sentados na primeira fila e bem próximo do solista, aquilo que nos chega aos ouvidos são as notas musicais que resultam do roçar do arco com a corda do violino em conjunto com a ressonância da caixa que esta provoca, não o som extramusical do efeito sonoro físico resultante do roçar de dois objectos entre si. Naturalmente que este som é real, mas só será audível para o solista e nada tem a ver com a música que é suposto produzir, logo fica a questão de saber se é suposto um equipamento de reprodução de música fazer-nos chegar aos ouvidos detalhes que nada têm a ver com a música, muito embora existam no contexto do processo de criação musical?

Como já afirmei acima, muitos amplificadores arredondam o extremo agudo de forma a evitar arestas cortantes. Não me parece que o Orpheus recorra a essa solução uma vez que a clareza e detalhe dos registos agudos estão presentes na sua plenitude, contudo, não detectei quaisquer traços de agressividade que comprometam o prazer da audição musical. O Orpheus dá claramente prioridade à reprodução do contexto sonoro que contribua para a percepção da mensagem musical em detrimento de detalhes que podem impressionar numa primeira audição, mas cuja natureza é extramusical, logo, de somenos importância.

A comparação com o meu Accuphase P-7300 é inevitável. Em termos globais, diria que o registo grave do P-7300 é mais possante, mais amplo, não sendo notórias grandes diferenças na qualidade da articulação e na forma como ambos permitem perceber as notas mais graves de instrumentos como os violoncelos e contrabaixos, o fagote ou o trombone. Numa comparação directa com música com conteúdo intenso nos registos graves (3ª Sinfonia de Mahler), parece que o Accuphase acusa alguma perda de velocidade de resposta por comparação com o Orpheus, mesmo que essa menor velocidade de resposta aparente não tenha como consequência o efeito de mascarar a gama média. Ainda assim, acaba por não facultar uma gama média tão clarividente quanto a do Orpheus que demonstra uma mais clara diferenciação entre os registos graves e a gama média, sendo capaz de apresentar em simultâneo os naipes de metais, brilhantes e refulgentes, enquanto deixa perceber o impacto visceral dos timbales ou do gongo percutido em fortíssimo. Já as vozes beneficiam também da clarividência da gama média, soando inteligíveis e com uma presença física que se percebe real. Patricia Barber, no seu estilo peculiar e voz gutural, providenciou-me um momento de puro deleite musical com o álbum Modern Cool.

O equilíbrio tonal do Orpheus é essencialmente neutro com um ligeiro desvio no sentido da claridade, por comparação com o Accuphase que é mais sombrio na sua apresentação. Continuando em termos comparativos com o Accuphase, o Orpheus cede alguma da calorosa gama média e também alguma da imensa escala que o superior slam do Accuphase confere à reprodução musical em favor de uma apresentação onde se ganha detalhe, resolução e um palco mais clarividente que revela com maior acuidade as diversas camadas da composição orquestral e faculta uma melhor destrinça do que cada instrumento ou naipe de instrumentos estão a tocar em cada momento.

Aliás, a tridimensionalidade e a transparência do palco sonoro, bem como a absoluta pureza do timbre foram duas características que me cativaram desde o primeiro momento e que seriam suficientes para merecer uma recomendação da minha parte. O palco sonoro está mesmo ao nível do melhor que já ouvi na minha sala, independentemente do custo dos equipamentos em questão. Para além de muito amplo nas três dimensões, a transparência com que se desenvolve permite que os diversos níveis de profundidade surjam com igual importância relativa, aliando uma excelente focagem e iluminação dos intervenientes que se mantém constante independentemente da posição mais ou menos recuada destes. Este espaço criado em redor dos instrumentistas e a capacidade de revelar de um modo bem vincado a assinatura sónica do local de gravação, contribui para uma sensação de envolvência invulgar e um realismo musical impressionante.

Foto 6 Orpheus I200

Conclusão

Não há qualquer dúvida que Orfeu e a sua lira continuam a espalhar o seu encantamento agora por via do amplificador integrado Orpheus Absolute Integrated. Um equipamento de uma marca quase desconhecida em terras lusas, mas que já conta com quase um quarto de século de existência. Não tenho pejo em afirmar que este Integrated A Four I200 vem partilhar o pódio dos grandes amplificadores integrados, capazes não apenas de questionar a superioridade dos conjuntos prévio+amplificador de potência, como até mesmo de se assumir como uma opção mais racional, por força do que a opção integrada permite poupar para o mesmo nível de desempenho sonoro.

Fica o convite aos leitores para procurarem fazer uma audição ao Orpheus. Mas cuidado, a exposição à lira de Orfeu pode provocar um encantamento irreversível! Eu apenas posso afirmar ter ficado completamente rendido às suas qualidades musicais.


                              Especificações técnicas

  1. Impedância de entrada: 94 kΩ (Bal/N_Bal)
  2. Nível de entrada máximo: 4.8 / 2.4 Vrms (Bal/N_Bal)
  3. Ligação à terra: 2 modos de selecção via menu.
  4. Potência RMS: 200 W @ 8 Ohm
  5. Potência de pico: 850 W ; tensão máx. (pico):56,7 V; corrente máx (pico):15 A
  6. Resposta em frequência : 0,7 Hz a 85 kHz (-3 dB); 5 Hz a 24 kHz (+0dB, -0,1dB)
  7. THD+N @ 200W p/canal/8 Ohm – 22 Hz a 22 kHz: menor que 0,004% (-88 dB) @ 1kHz
  8. THD+N (sem carga): menor que 0,001% (-100 dB) @ 1kHz
  9. Relação sinal/ruído: -114 dB / -113 dB (Bal/N_Bal)
  10. Ganho: 24,5 dB / 18,5 dB (Bal/N_Bal)
  11. Factor de amortecimento: maior que 3000
  12. Potência máxima de consumo: 950 W
  13. Consumo em repouso inferior a 1W
  14. Dimensões: 179x440x440 mm (LxCxA)
  15. Peso: 36 kg
  16. Preço: Orpheus Absolute Integrated A Four I200: 17500 €
  17. Controlo remoto Orpheus 350 €
  18. Representante: Ultimate Audio