Um competidor de peso para o pódio dos streamers acessíveis.
Poucos no mundo da alta-fidelidade não conhecerão o nome da Bluesound, uma das primeiras marca a ter um impacto significativo no mundo dos streamers - e pertencente ao grupo canadiano Lenbrook International, que também detém a NAD e a PSB, assim como o software BluOS (usado também pela NAD e pela PSB, e por outras marcas externas à Lenbrook como a Dali, a Monitor Audio/Roksan, a Cyrus ou a Peachtree) e uma nova empresa chamada MQA Labs (que compraram recentemente à Meridian e que irá aparentemente abrigar em breve um novo serviço de streaming baseado na HDTracks e em que os clientes poderão escolher entre ficheiros FLAC ou MQA). É portanto evidente que a Bluesound e a Lenbrook estão muito activas no mundo do streaming de áudio e convém notar quando trazem novidades.
E, recentemente, a Bluesound anunciou três novos streamers: o novo NODE NANO (aqui em análise), o renovado NODE (acabado de sair) e ainda a novidade flagship NODE Icon (a ser lançado em Novembro). Tem sido aliás comum a Bluesound renovar os seus produtos e só o NODE, o mais famoso de todos, já contou com varias versões: a original (2013), o NODE 2 (2015), o NODE 2i (2018), o NODE 3 (2021) e o NODE X (2023, edição comemorativa dos 10 anos e precursor destes novos produtos). Mas acontece que, só no último ano, o mercado dos streamers de preço abordável viu a chegada de dois fortíssimos players, a Wiim e a Eversolo, e dois novos produtos da Cambridge Audio (MXN10 e CXN100). Apesar de ter lançado recentemente uma versão bastante renovada do BluOS (4.0), a secção de hardware estava já um pouco desactualizada face a este nova e competente concorrência e a Bluesound decidiu, e bem, renovar a sua linha - com a mais evidente novidade a ser a substituição dos DACs da Burr-Brown pelos ESS Sabre, em teoria uma excelente decisão.
Para começar, se acha que o nome tem o seu que de hiperbólico, está profundamente enganado - o NODE Nado é estupidamente pequeno, substancialmente mais pequeno que o meu já diminuto MXN10 e passa facilmente despercebido em setups onde isso seja necessário. Para além das saídas analógicas RCA, e de uma entrada de pen, o NANO conta ainda com Wi-Fi, uma entrada de rede Ethernet e três saídas digitais - óptica, coaxial e USB, o que permite fazer deste streamer um transportador digital para quem tenha bons DACs externos. Temos ainda alguns controlos na parte da frente, que me parecem ser desnecessários tendo em conta que a App acaba por se tornar essencial no manuseamento destes produtos - gostaria apenas que a entrada para USB estivesse em cima da entrada de rede Ethernet, o que tornaria o processo de pôr e retirar uma pen muito mais simples, mas acredito que o desenho do circuito impresso impossibilite essa opção (a entrada para a pen serve também como saída digital USB).
Liguei então o NANO à rede por cabo Ethernet e à corrente através do seu alimentador USB, e abri a App respectiva num tablet Android em que já estava instalada e que tinha estado ligada recentemente a um NAD M66 e, surpresa, o BluOS não encontrava o NANO… A solução foi simples - desinstalei e voltei a instalar a App e logo apareceu o NANO (fica a dica para quem já tenha a BluOS instalada e eventualmente se depare com este problema). Isto feito, comecei então a navegar na muito bem organizada App (que, já agora, está não só disponível para Android e iOS, mas também para Windows e macOS, uma abençoada mas infelizmente rara circunstância) e, como já sabia, não existe protocolo UPNP - precisamente o protocolo que uso diariamente… O acesso a um NAS é, no entanto, relativamente simples, particularmente usando a aplicação em ambiente Windows - introduz-se o network path endereço IP da pasta do NAS que pretendemos usar, o nome de administrador e respectiva palavra-passe do mesmo NAS, e o BluOS começa a indexar a biblioteca, processo que só faz uma vez, mas que requereu da minha parte alguns “truques”, que explico em anexo final. Uma das vantagens deste processo é que a indexação da biblioteca é feita dentro do NANO em vez de externamente (como no caso de um servidor) e o browsing da mesma torna-se assim muito rápido, sem quaisquer «soluços».
Para compensar a ausência de UPNP, o BluOS apresenta-nos Bluetooth (aptX e bidireccional, o que significa que tanto pode enviar som de um telefone ou computador para o NANO como pode enviar som do NANO para uns auscultadores Bluetooth, por exemplo), Airplay 2, Tidal Connect, Spotify Connect, Roon Ready, controlo de voz com Amazon Alexa, descodificação de MQA e uma infinidade de serviços de música: imensas rádios online, Amazon Music, Deezer, Qobuz, Tidal, Spotify e muitos outros (estando prometido um update que permitirá ouvir ficheiros DSD até DSD256, embora nunca seja demais lembrar que os conversores ESS não lêem DSD de forma nativa) Indexada a minha colecção, comecei então a ouvir música através de um NAS e de uma pen, assim como ocasionalmente com o Qobuz e tudo funciona simples e rápido, do melhor que já experimentei - inclusive com um excelente menu now playing com uma capa bem grande, onde só gostaria de não ter uma versão desfocada da mesma como fundo. Outra excelente notícia é que o BlueOS lida bastante melhor com playlists grandes que o protocolo UPNP, que é excelente para tocar um disco do início ao fim (90% do uso que lhe dou) mas que se pode atrapalhar um pouco com playlists muito grandes e shuffles, repeat one e afins. Não foi o caso do BluOS - com uma lista de 269 músicas, tocou sem parar, tanto a direito como em shuflle, e permitindo fazer repeat one sem interromper a reprodução de música (já experimentei tantas Apps que nem repeat one permitem que nem lhes tenho conta…). Gostaria apenas que fosse possível adicionar fotografias de artistas quando se faz browsing da biblioteca e que houvesse suporte para multi-artistas (o BluOS assume o primeiro artista como o artista quando vários nomes ocupam essa tag); nota final ainda para o uso de Qobuz, que funcionou sempre forma exemplar e para a possibilidade de usar favoritos, o que me permitiu aceder muito rápido aos discos que andava a ouvir naquele momento.
Outras boas notícias são a presença de igualização digital, com controlos de graves e agudos, e muito bem implementada porque, ao activarem-se os controlos de tonalidade notamos imediatamente uma atenuação digital de 6db e é assim que deve ser, permitindo assim o necessário digital headroom para quando se quer fazer boost de frequências (tenho aliás lido que alguns utilizadores notam distorção quando usam o igualizador dos Eversolo A6 e basta reduzir o volume digital para esse problema se resolver). Também é possível atenuar intersample overs ou activando os controlos de tonalidade ou limitando o volume máximo, por exemplo, a -3 dB (o controlo de volume digital usado é o dos chips Sabre, que funciona a 32 bit, e as perdas de resolução em atenuações cirúrgicas de -3 dB ou -6dB são negligenciáveis face aos ganhos com a ausência de distorção digital). Temos ainda, para quem use, replay gain, o que é relativamente incomum mas bastante útil.