Um marcante salto evolutivo
O Cambridge CXN V2 foi até hoje um dos maiores sucessos da Cambridge Audio, pelo menos em prémios da imprensa especializada. Mas já começava a dar alguns sinais da idade e ia-se percebendo, desde a saída da nova DAC Magic 200M e dos streamers MXN10 e AXN10 (e consequente adopção dos chips Sabre), que muito provavelmente a Cambridge iria lançar um novo produto nesta categoria. E, temos então, o novíssimo Cambridge CXN100 - muito parecido, visualmente, com o seu predecessor, embora com um mostrador ligeiramente maior e com mais resolução (ainda assim, creio que aqui a EverSolo ainda leva vantagem, com um ecrã fantástico). A qualidade de construção e o design estão ao nível do que as Cambridge nos habituou e seria difícil fazer melhor a este preço (gostaria de ver a versão em preto, que a Cambridge gosta de lançar como edição limitada). O controlo remoto é opcional e não senti nenhuma falta do mesmo, pois tudo se consegue fazer através da App - adianto já aqui que, tal como com o MXN10 que uso regularmente, não sou particularmente fã da implementação de volume digital da Cambridge Audio e notei degradação sonora mesmo com pequenas atenuações para limitar intersample overs (o que não notei em outros produtos já testados). Tal como no MXN10, continuo a não compreender a introdução de uma escala ininteligível para gerir o volume - diga-se que também não o consigo compreender quando as marcas o fazem no domínio analógico. Atenuação, digital ou analógica, mede-se em decibéis… Recomendo, portanto, que se desligue o modo de préamplificador e que qualquer atenuação digital se faça com software.
Internamente, temos algumas diferenças, nomeadamente a já referida implementação de um chip ESS (Sabre) em detrimento do anterior Wolfson Audio, o que permite passar de resoluções de 24bit/192 kHz e DSD64 para 32bit/768 kHz e DSD512 (no caso do DSD, um pequeno pormenor que muitas marcas “omitem” - o DSD nos chips da Sabre não é processado de forma nativa conforme indicam, e como acontece nos Burr-Brown ou alguns AKM, mas convertido para um formato multibit proprietário). O novo chip tem, no entanto, muitas vantagens no processamento de PCM (Pulse Code Modulation, usado nos formatos WAV ou FLAC), e dispensa o upsampling executado pelo FPGA do CXN V2 e permite também, segundo a marca, uma maior simplificação do andar de saída. Temos também aqui presente o ultimo módulo da plataforma Stream Magic, de quarta geração (tal como no MXN10 e no AXN10), e a possibilidade de processar MQA de forma nativa (o que é um pouco estranho, tendo em conta a recente quebra de popularidade do formato).
Do ponto de vista de streaming (por Ethernet ou Wi-Fi), tudo o que escrevi para o MXN10 se aplica aqui - a Cambridge Audio terá hoje provavelmente a melhor e mais completa plataforma do mercado. Chromecast Audio (cada vez mais raro, infelizmente), Airplay 2, Roon Ready, UPNP (gapless!), Spotify Connect, Tidal Connect e ainda a possibilidade de aceder a mais serviços pela App (Qobuz, Deezer, Internet Radio e acesso a servidores NAS). Para além de toda esta oferta, na minha experiência durante todo o teste (e também com o meu streamer habitual, o MXN10), o CXN100 não falhou uma única vez. A App poderia ser melhor esteticamente, ou seja, em termos de grafismo, especialmente no menu Now Playing, mas é também ela absolutamente infalível, o que é uma lufada de ar fresco nos dias que correm e um exemplo a seguir para muitas outras marcas.
Onde o CXN100 se distingue dos seus irmãos mais novos (AXN10 e MXN10), para além do mostrador, é na presença de ligações físicas. Enquanto os primeiros apenas têm entradas de rede (Ethernet) e USB (para ligar uma pen ou um disco externo), o CXN100 acrescenta entradas USB (para ligar um PC ou streamer/servidor externo, com isolamento galvânico) e entradas S-PDIF (em formato óptico e coaxial), muito práticas para ligar um televisor ou transporte de CD. Estas entradas, particularmente a USB, tornam o CXN100 mais imune ao passar do tempo - se houver novos protocolos ou formatos no futuro que o CXN100 já não consiga processar, é sempre possível ligar um transporte por USB e aproveitar o excelente DAC interno. Em comum com os AXN10 e MXN10 temos saídas digitas S-PDIF (também elas nas versões óptica e coaxial) e saídas analógicas não balanceadas (RCA), mas aqui o CXN100 acrescenta também saídas balanceadas, em formato XLR (aproveita-se aqui para explicar que o CXN100, como tantos outros produtos, não é realmente balanceado do principio ao fim, ou sequer balanceado em todo o seu circuito analógico, mas apenas no estágio de saída final). Devo dizer que, tendo em conta os ciclos bastante longos dos produtos da Cambridge (o ultimo CXN, ignorando a versão V2, durou de 2015 a 2024), gostaria de ter visto alguns upgrades que teriam tornado este produto mais 2024 e menos 2015 - entrada HDMI ARC para televisores, saída digital por USB e, talvez, uma saída para auscultadores.