Focal Theva N.º 1

Miguel Marques

7 fevereiro 2024

Uma das melhores propostas até aos 900 €

Audições

Para começar a minha audição, a primeira escolha recaiu sobre os excelentes The Reunion Project e o seu álbum «Varanda» (2017) - apesar do nome, trata-se de um colectivo de músicos de jazz brasileiro (a febre por anglicismos parece também ter atingido o outro lado do Atlântico). Muito bem gravado (e tocado), as Focal mostram logo ter uns médios substancialmente mais encorpados que as minhas habituais 606 (embora creia que em versões mais recentes das 606 os engenheiros da B&W tenham sido mais comedidos na projecção dos médios). O som fica assim bastante mais cheio, presente e focado, mas perde-se muito ocasionalmente alguma claridade e separação instrumental (embora parte disso talvez se deva também ao som quente do streamer MXN10 e a um tweeter mais suave por parte das Focal, em comparação com a B&W; nesta gama de preço, naturalmente, é impossível não haver trade-offs) Tendo em conta esta característica senti que as Focal soavam melhor com um pouco de inclinação para dentro, direccionando as monitoras directamente ao ouvinte. Um bom resumo do som destas Theva seria: graves sólidos mas que não tomam conta do espectro musical; médios com muito corpo; e, por fim, agudos muito suaves, absolutamente nada agressivos. A sensação de palco é muito “focada”, dando mais uma sensação de primeira fila do que de uma sala grande (o que até prefiro).

Mudando radicalmente de estilo, passei para os The Doors e a edição de 2017 de todos os seus singles em alta resolução. Aqui, o corpo das Theva revelou-se perfeito e o som psicadélico da banda californiana encheu o meu quarto com os trovões de Riders on the Storm e os longos solos de Ray Manzareck no Fender Rhodes, muito inspirados por John Coltrane (lembram-se quando o rock tinha solos?) Em temas mais agressivos como Break on Trough ou Roadhouse Blues, o som quente e laid-back das Focal revela-se um bom contraponto - não é uma apresentação tão in your face mas sim focada e intensa, o que acaba por revelar um contraste interessante nestas colunas: geralmente quando umas colunas têm um som mais focado e com um palco de “primeira fila” tendem também a soar mais agressivas e abertas. Mas aqui não é o caso, e a combinação de um som focado e presente mas também suave e aveludado nos agudos, é muito original e torna as Focal uma proposta muito interessante e distinta da concorrência.

Mais uma mudança e desta vez segue-se o fenómeno da música electrónica Gorillaz - a primeira banda virtual do mundo, criada pela criativa mente de Damon Albarn, talvez mais conhecido por ser o vocalista da banda de rock britânica Blur. Neste The Singles Collection 2001-2011 encontramos os temas mais conhecidos desta «banda» e as Focal mostram aqui bastante versatilidade, adequando-se a estilos de música muito diversos sem nenhuma dificuldade. Algumas das características acima referidas voltam a mostrar-se aqui - com um palco muito próximo e focado e um excelente equilíbrio entre frequências, destacando-se novamente a suavidade dos agudos. Tal como nos disco dos The Doors, as Theva mostram aqui serem perfeitamente capazes de transmitir a energia e a vitalidade que este estilo de música requer, e rapidamente temos vontade bater o pé ao som do beat dos Gorillaz - e revelam aqui outra característica interessante: estas Focal gostam de tocar alto. Não muito alto, mas soam tanto mais vivas quanto mais se sobe o volume - a baixos volumes, muitas das suas melhores qualidades não vêm ao de cima.

No mundo da música clássica, escolhi a compilação Plays Debussy & Ravel (1994, seis discos) da magnífica pianista parisiense Monique Haas - aqui, como o nome indica, a interpretar a música dos dois compositores impressionistas. A gravação não é magnífica mas a música é (tanto as composições como a sua interpretação), e justifica a audição, até para perceber o quão “duras” as Focal são com gravações de menor qualidade. Percebe-se rapidamente que as Focal respondem bem às muitas variações dinâmicas que Haas impõe no piano, requisito essencial para a escuta de música clássica; percebe-se também que o som mais contido do tweeter não impede aqui de ouvirmos os crescendos no registo agudo do piano e os agressivos e percussivos transientes que daí resultam inevitavelmente; e percebe-se também que as Focal têm alguma tolerância a música menos bem gravada, mas não tanta assim - para além de tocar alto, estas Theva têm clara preferência por música bem gravada, mas não ao ponto de não se conseguirem ouvir estes discos (como já me aconteceu em alguns sistemas no passado, mesmo nesta gama de preço).

Para terminar, um regresso ao jazz com o quinteto do saxofonista tenor Chris Cheek (nunca a palavra subvalorizado, que hoje em dia se aplica tantas vezes em excesso, se aplicou tão bem a alguém) e o magnífico disco Vine (1999, Fresh Sound New Talent). Muito bem gravado, o que nem sempre acontece nas edições da editora catalã de Jordi Rossi, é um disco que combina muito bem com as características sonoras das Focal. O contrabaixo do neozelandês Matt Penmann soa com uma pujança imponente para umas monitoras deste preço, mas nunca se impõe; a guitarra cheia de médios de Kurt Rosenwinkel, o potente piano de Brad Mehldau (aqui em alguns temas no Fender Rhodes, algo quase inédito na carreira daquele que será provavelmente o músico de jazz mais importante dos últimos trinta anos) e o som quente de Chris Cheek, tanto no tenor como no soprano, soam, uma vez mais, suaves e presentes ao mesmo tempo - e é esta a característica definitiva destas Focal Theva.

Em conclusão, as Focal são uma das melhores propostas que já ouvi no grupo das monitoras abaixo dos 1000 € - e este é um segmento onde as opções abundam. Dão-se bem com todos os estilos de música (embora gostem mais de boas gravações), com médios muito presentes e uns aguados suaves e redondos, o que é incomum nesta gama de preço. Muito ocasionalmente, senti alguma falta de claridade e de separação instrumental, mas isso é perfeitamente natural se tivermos em conta o preço e é o reverso da medalha das qualidades anteriormente mencionadas (e o streamer MXN10 contribui também para este fenómeno, com um som mais quente do que neutro). Se está à procura de umas novas monitoras e tem um orçamento dentro desta gama, seria um grande erro não ouvir estas Focal na sua pesquisa. Muito recomendadas.

Colunas Focal Theva N.º 1

Preço                 717,99 €   

Representante   Esotérico