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Prévio de gira-discos SOtM sPQ-100

Prévio de gira-discos SOtM sPQ-100

Jorge Gonçalves

2 dezembro 2023

Não é preciso gastar muito para ouvir o vinilo no seu melhor!


Audições


O sPQ-100 trazia já alguma rodagem quando aqui chegou e foi incluído no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o iFi Audio Pro DSD como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono, o qual alternou com o SPQ-S100. As colunas eram as Diptyque DP 140MkII, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o amplificador de potência da Constellation a ser alimentado através do cabo de sector Tiglon TPL-2000A.
Testar um prévio de gira-discos é algo que me dá sempre muito prazer, até porque pode ser sempre uma oportunidade para, tal como abrir uma boa garrafa de vinho, estrear um LP que ainda esteja selado e ouvi-lo com uma satisfação muito especial. Pois a convivência com o sPQ-100 foi uma daquelas que abriu oportunidades para proceder a estreias, o que significa que foi confrontado com mais uma bela surpresa. Mas sobre isso falarei um pouco mais adiante.
Proceder aos ajustes nos comutadores foi tarefa bem fácil pois ele já vinha pré-configurado para a igualização RIAA e foi apenas uma questão de escolher o nível de ganho de 60 dB, e seleccionar a carga resistiva mais apropriada para a Air Tight PC1 Supreme que estou farto de saber se situa em torno dos 400 ohms. E é neste ponto que tenho que deixar uma crítica leve à SOtM porque ter um intervalo de resistência entre 15 e 500 ohm e não ter nenhum valor cerca de 1 kohm é algo que causa alguma estranheza, embora aceite que o número de posições de um comutador deslizante é limitado e alguma limitação teria que ser colocada ao valor máximo ou mínimo da resistência de carga. Mas que duvido que alguém note alguma diferença entre uma carga de 15 ohm e outra de 20 ohm, lá isso não deixo de notar. Isto embora eu não me possa queixar mesmo quase nada pois entre 400 ohm e 500 ohm as diferenças no desempenho da cabeça da Ar Tight são mínimas.

Foto 2 SOtM_sPQ-100

Mas adiante, que convém começar a falar sobre o modo como o sPQ-100 se portou. Claro que não o vou comparar com o prévio da Nagra, que está num nível de preços de uma escalão bem lá para cima, mas não posso deixar de dizer que não me caíram os parentes na lama por estar a ouvir um prévio de gira-discos de preço bem acessível. Antes pelo, contrário, tendo escutado uma grande variedade de discos LP, tive que concluir rapidamente que este «menino» vai deixar muita gente de cara à banda, mesmo aqueles que possam ter ficado com alguns preconceitos quando olharam para o seu preço. O som é fresco, arejado, muito transparente, como níveis de detalhe surpreendentes e uma imagem espacial ampla e luminosa. E, aspecto nunca de somenos importância, o prévio de phono da SOtM tem um silêncio notável, mesmo no nível máximo de ganho, 70 dB: mesmo encostando o ouvido às colunas apenas se detecta um muito ligeiro ruído, mas mesmo muito ligeiro, praticamente inaudível, com o volume do prévio no máximo.
E, em termos de performance, vou começar por falar exactamente de um dos discos que abri pela primeira vez, Jazz Party in Stereo, de Duke Ellington, de que destaco, no lado 2, Tymperturbably Blue e Hello Little Girl, esta ultima faixa com a inestimável colaboração de Dizzy Gillespie e Jimmy Rushing. Na primeira destas duas faixas foi possível apreciar uma ambiência do mais interessante que tenho ouvido, com um palco sonoro parede a parede a ser reproduzido sem qualquer restrição transportando consigo a palpável sensação de ter uma banda a tocar com todo o gosto e alegria mesmo ali na minha frente, o que não seria nada fácil no mundo real… Na segunda faixa pude ouvir com uma clareza quase arrepiante o estalar de dedos de Jimmy Rushing, algo que não é fácil de nos apercebermos num sistema qualquer, a não ser que ele esteja muito bem apetrechado e que, ouvido no Nagra CLASSIC Phono tinha exactamente todas essas qualidades, com o acréscimo de um cheirinho mais de musicalidade, o que tem tudo de natural quanto mais não seja porque o prévio da Nagra utiliza válvulas como elementos amplificadores. A voz de Jimmy tinha igualmente uma extrema naturalidade e uma colocação milimétrica na zona central que fazia aproximar o acto de audição de uma realidade extrema, como eu pude comprovar numa das fotos existente na contracapa do disco. E com tudo isto fui andando por ali adiante, sulco a sulco, faixa a faixa, até ouvir todo o disco, com uma sensação final de que a frequência de resposta do sPQ-100 estava mais que correcta, com uma grande autenticidade na reprodução dos agudos e dos graves, e uma adequação quase instantânea a todo e qualquer transiente que aparecesse. E a gama média continha todos os ingredientes importantes, ligando-se sem qualquer descontinuidade aos registos mais agudos, os quais eram rápidos, abertos e extensos, sempre sem qualquer indício de exagero.

Foto 7 SOtM_sPQ-100

E lá tinha que vir mais uma estreia: um LP (reeditado) da Mercury Living Presence, que comprei já lá vão algo como 30 anos num dos primeiros CES que visitei. Tem as gravações do Castelo do Barba Azul, de Bella Bartok, e excertos de Wozzeck, de Alban Berg, com a condução de Antal Doràti. Confesso que nunca fui um grande apreciador de Bartok, um compositor que fica ali na transição entre a música clássica mesmo clássica e um estilos renovados que apareceram nas décadas de 30 e quarenta e por aí continuaram até chegar aos minimalismos de que Philip Glass é um dos expoentes máximos. E isso fez com que este disco, que acabei por saber depois, é um dos mais apreciados dentro desta colecção da Mercury, tenha ficado mais ou menos esquecido na minha colecção. Pois foi uma excelente ideia abri-lo – estava novo, impecável e fiquei logo com uma impressão bastante diferente da que tinha em relação a Bartòk quando ouvi a entrada do Castelo, com uma secção de cordas, rica e com um excelente enchimento, a entoar quase como que uma czarda húngara, seguida do conjunto de sopro já mais colocado centralmente a dar mais ardor e complementadas estas duas pelos violinos e pelas duas vozes que subitamente se materializam ali mesmo em frente da orquestra. Esta é uma música plena de dramaticidade e que joga em volta da persistência e medo de Judite, perseguida por um Barba Azul imponente, mas resignado. De tudo isto e das muitas portas que se abrem ao longo da ópera, nada menos de 11, resulta uma performance sonora lúcida e cheia de atmosfera que me foi apresentada como que numa bandeja pelo sPQ-100. Quase que me fez lembrar um daqueles relógios com uma tampa transparente em que podemos ver o complicado mecanismo que está no seu interior, cheio de molas e engrenagens que se conjugam em acções perfeitamente sincronizadas para conseguirem uma apresentação perfeita do tempo. Cada conjunto de engrenagens tem uma função e, apenas como um exemplo, no prévio da SOtM passa-se algo de semelhante, com a orquestra a ser apresentada com toda a imponência que dever ter, ao mesmo tempo que as vozes são sempre claras e bem audíveis, nunca havendo qualquer sobreposição de funções. E a reverberação nunca era exagerada, os instrumentos a solo, tais como o clarinete e o trompete, soavam maravilhosamente arredondados e com a imediaticidade certa, nunca exagerada. Mais uma vez valeu a pena abrir uma obra que esteve guardada durante tanto tempo.
Mas ouvi também uma vez mais muitos daqueles discos que já tão bem conheço, incluindo aquele que considero uma das melhores obras que alguma vez se fizeram no panorama musical português, o Por Este Rio Acima, do Fausto. Isto sem esquecer Salt City Six Plays The Classics in Dixieland, um gozo de audição quase inigualável, Camille, deAlessia Martegiani e M. Coclite, e o inescapável Clair de Lune, da Living Stereo, com transcrições dos concertos Promenade que dantes davam sempre na televisão e agora parece que andam sempre escondidos. E em praticamente todas estas situações o sPQ-100 esteve perfeitamente à altura do que lhe era pedido, demonstrando que aquilo que os projectistas da SOtM quiseram fazer quando o desenvolveram era perfeitamente exequível a um preço mais que razoável.

Foto 6 sPQ-100P

Conclusão


Poderia dizer de modo quase absoluto que a 600 euros é impossível encontrar algo que tenha uma performance tão elevada como a deste sPQ-100. E poderá aqui ficar exarado que é exactamente isso que penso, só mantenho deste meu lado a ressalva de que não há afirmações absolutas e que quem as emite verá muito rapidamente a realidade vir demonstrar-lhe que afinal talvez, nunca se sabe, possivelmente e assim por diante, há uma outra coisa que afinal… Mas deixemo-nos de tiradas filosóficas: o sPQ-100 é um verdadeiro achado, que cumpre de uma maneira completa os requisitos de quem quer ouvir gira-discos com alta qualidade sem ter que gastar uma fortuna. O que contém dentro em termos de qualidade de componentes e custos de desenvolvimento faz com que pareça milagre o preço a que é vendido. Altissimamente recomendado.


Prévio de gira-discos SOtM sPQ-100


Preço               600 €
Representante Ajasom


Nota: de uma maneira propositada, optei por não experimentar o sPQ-100 com a fonte de alimentação extra para não criar nos que lerem este teste a ideia errada de que sem a fonte de alimentação externa o prévio não seria tão bom. Antes pelo contrário, é muito bom e justifica que quem o vá adquirir o ouça com a fonte de alimentação citada para perceber até onde ele pode ir.

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