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Teste: Diptyque DP 140MkII

Teste: Diptyque DP 140MkII

Jorge Gonçalves

27 outubro 2023

A Diptyque elevou a fasquia uma vez mais e não vai ser nada fácil ultrapassá-la


Audições


Como de costume, as DP140 MkII substituíram as minhas colunas residentes, as QUAD ESL 63 Pro e foram acolitadas pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as QUAD ESL63 Pro, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber.  Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o Nagra Classic Phono a ser alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A.
Como as colunas vinha novinhas em folha, houve que proceder ao necessário período de rodagem que se prolongou por mais ou menos 10 dias, com algumas experiências de posicionamento nomeadamente no que se refere ao afastamento das paredes laterais) . Embora esta fase não fosse muito demorada tive que tomar algum cuidado devido à assimetria de acabamentos nas paredes: a da esquerda está quase nua, em estuque, e da direita está quase totalmente preenchida por um móvel cheio de livros e discos. No fim de tudo acabei por seguir o conselho de Gilles e deixei os tweeters para fora, com a coluna da esquerda a cerca de 80 cm da parede lateral e a da direita ligeiramente mais próxima do móvel dos discos pois foi assim que senti que a imagem espacial estava optimizada e muito próximo daquilo a que estou habituado com as QUAD: imagem ampla nas três direcções mas sempre com uma grande solidez em termos de posicionamento de músicos e intérpretes vocais.

Diptyque DP140MK2_5_LR_2

Tendo talvez como influência a notícia do desfortunado ataque de coração que afligiu recentemente Al di Meola, achei que nada melhor me ficaria, depois de ter assistido a vários dos seus concertos, que ouvir o disco Theme e destaco aqui desde já a primeira faixa Al Di’s Dream. A introdução é belíssima, pela de sons «psicadélicos» (se é que ainda há quem, se lembre dos tempos em que este termo foi utilizado pela primeira vez) aos quais se segue um ataque quase frenético em termos de complexidade «cromática». Bonito de ouvir, exaltando as qualidades interpretativas de Al e o nível assombroso a que ele elevou a arte de tocar guitarra, com contrastes dinâmicos que parecem ter sido compostos para jogar lado a lado com a performance dinâmica das 140 Mk2. Uma audição inesquecível.
E porque não (re)ouvir o inescapável Take Five, de Dave Brubeck? Eu sei que já o ouvi algumas centenas de vezes e provavelmente o mesmo terá ocorrido com vários dos que me lêem, mas, e talvez por isso mesmo, porque não uma vez mais? E foi isso mesmo, mas não mais do mesmo, desde o inesquecível diálogo de entrada, executado à vez por diversos instrumentos e intérpretes, cada um a querer evidenciar a sua mestria, com o delicioso complemento do saxofone-alto de Paul Desmond nos momentos finais. Energia sonora, isso sim e sempre por parte das DP 140 Mk2, como foi evidente uma vez mais noutra faixa que ainda hoje se ouve muitas vezes mas noutros tempos era presença constante nos corredores dos shows de áudio desse mundo inteiro, a bem conhecida Stimela, de Hugh Mazekela, onde este até inventa um novo comboio que vem de Angola e Moçambique para Joanesburgo (!) como se tal fosse possível em termos geográficos ou de custos, mas isso são contas de outro rosário. O que aqui releva é que as Diptyque conseguem elevar-se em termos de presença sempre que os níveis dinâmicos da música o exigem, como desaparecem nos momentos em que a energia da música é bem reduzida, deixando o ar apenas a música que é para ser ouvida, diáfana, suave, bela até mais não, completa em termos de vigor e beleza.

Diptyque DP140MK2_3

E, uma vez que estou a falar em termos dinâmicos, porque não mencionar aqui Nils Lofgren e a faixa Keith don’t Go? É uma verdadeira ode às palavras sentidas, resultantes da dissolução da banda Grin, e uma elegia à parelha Keith/Mick Jagger que era conhecida pela designação Glimmer Twins. Segundo Nils, a letra desta música era um grande agradecimento através de algo como “tu és como que um remédio, porque é que não ficas connosco e tomamos conta uns dos outros?”. São palavras sentidas e é uma bela música, ela também sentida, emotiva e com cambiantes dinâmicas e transientes de arrepiar!


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