Diálogo musical do alto nível
Conforme já mencionei na minha reportagem sobre o Hi-Fi Show de Lisboa, a Riviera é uma marca que conheço quase desde os primeiros momentos pois acompanhei o seu aparecimento no Show de Munique e continuei depois disso a passar sempre pelo local de exposição para falar com Sílvio Delfino, um dos sócios por detrás da Riviera. Fomos trocando impressões, falando sobre o hardware, área de que ambos gostamos muito, isto ano após ano, e eis que a Riviera passou a ser representada em Portugal pela Ajasom, já lá para mais de um ano.
A presença no Hi-Fi Show do conjunto do prévio APL-10 e dos dois monoblocos AFM-50 foi uma excelente oportunidade para eles passarem por minha casa antes de seguirem para Itália para estarem presentes em mais um show de áudio. E em boa hora tal aconteceu, como veremos de seguida.
Descrição técnica
Ambos os equipamentos testados ostentavam exteriormente um belíssimo acabamento em tons de champanhe, bem difícil de obter, como Sílvio me confidenciou, pois necessitam de sete sessões de polimento e pintura para satisfazerem as elevadas exigências da Riviera. O formato externo é igualmente bem diferente da habitual geometria rack – uma caixa rectangular bem mais larga e profundo que alta. No caso da Riviera temos uma caixa bem mais alta que uma altura de rack, de formato frontal quase quadrado e um pouco mais profunda do que larga. É, sem duvida, uma variante bem interessante.
Começando pelo prévio APL10, encontramos na parte superior direita do painel três botões de controlo, um para a selecção de entradas, outro para o balanço entre canais e o terceiro para o volume, todos com um revestimento dourado. A tecla de ligar / desligar complementa o conjunto de controlos.
Olhando agora para as ligações traseiras, tudo está uma vez mais reduzido ao mais simples: três conjuntos de fichas RCA e um de fichas XLR para as entradas de linha, saídas duplicadas por fichas RCA e entrada de alimentação com interruptor geral incorporado são, por junto, tudo o que se pode encontrar.
Aberto o equipamento pode apreciar-se a construção meticuloso e organizada que é apanágio da marca, com um circuito impresso central a conter todos os elementos activos e passivos, ladeado por um sobredimensionado transformador (pelo menos com 200 VA de potência) de estrutura E/I – conforme Silvio me confidenciou, Luca não gosta de transformadores toroidais e continua a construir ele mesmo os transformadores para todos os equipamentos da marca, em mais uma manifestação de completo perfeccionismo.
Uma válvula duplo tríodo por canal (uma 12AW7TA da Radiotechnique ou uma ECC802S da JJ Electronics, de fabricação actual, para a marca poder cumprir as normas RHOS, coisa com que nos tempos de fabricação destas válvulas se sonhava) fornece ganho mais que suficiente pois a configuração SRPP escolhida pela Riviera, como dois tríodos em série, permite obter um ganho elevado, uma impedância de saída relativamente baixa e igualmente níveis baixos de capacidade de entrada. O potenciómetro de controlo de volume da TDK, de alta qualidade, é do tipo motorizado e os condensadores de desacoplamento para saída são, em cada canal, um paralelo de três tipos de condensadores de capacidades diferentes: um de polipropileno de 0,1 µF, outro de dieléctrico misto de 2,2 µF e mais um de 0,1 µF de poliestireno, uma combinação interessante que tem como conceito subjacente aproveitar as melhores qualidades de cada tipo de dieléctrico.
A fonte de alimentação tem circuitos de filamentos independentes para cada válvula, estabilizados, sendo a filtragem da alta tensão implementada através de vários malhas em duplo Pi de condensadores electrolíticos e resistências, em vez de um condensador apenas de maior capacidade.
O AFM50 comunga da simplicidade do painel frontal com o prévio: um vuímetro central apresenta o nível do sinal de saída e, para além disso, apenas temos o botão de pressão para ligar / desligar. E na traseira então é que não há mesmo complicações nenhumas: duas fichas de entrada, uma RCA e outra XLR, seleccionáveis através de um comutador de alavanca miniatura, dois terminais de coluna do tipo múltiplo e uma ficha Shucko para a entrada do sector com interruptor geral integrado. A entrada balanceada por XLR possui um transformador de alta qualidade que converte o sinal balanceado para single-ended pois é este o modo de funcionamento interno do APL-10.
A topologia do AFM50 é do tipo híbrido, com válvulas duplo tríodo na entrada (CV4003, da Brimar, uma versão militar da equivalente 12AU7 ou ECC82) e quatro pares de transístores MOSFET canal N (IRF240) e canal P IRF9240, com uma tensão máxima de funcionamento de 200 V e uma corrente máxima de 11 A, para uma potência dissipada máxima de 125 W) em classe A na saída. Dois imponentes dissipadores laterais libertam uma razoável quantidade de calor mesmo a baixo volume pois o funcionamento em classe A implica de o melhor rendimento só se obtém quando o amplificador debita a potência máxima – de aí para baixo, toda a potência não debitada às colunas tem que ser transformada em calor. A Riviera não utiliza malha de realimentação global nos seus circuitos, reduzindo a realimentação a níveis mínimos e apenas em termos locais – junto de cada andar.
Um circuito impresso de dimensão quadrada colocado no topo do bem sobredimensionado transformador contém os circuitos de alimentação e potência, novamente com a utilização de condensadores de filtragem e desacoplamento montados directamente junto dos transístores de saída. Já as válvulas estão montadas sobre um circuito impresso de menores dimensões montado verticalmente junto ao painel traseiro. Quatro LEDs de cor verde indicam a presença das tensões necessárias nos pontos mais importantes do circuito e quer o prévio quer os amplificadores de potência possuem circuitos temporizadores que só permitem o arranque completo dos equipamentos após alguns segundos de se ter premido a tecla que liga a alimentação. Novamente por opção, não são utilizados circuitos de protecção nos equipamentos da Riviera, fusíveis nas linhas de alimentação são mais que suficientes, disse-o Silvio. A fabricação de todos os equipamentos da Riviera tem lugar exclusivamente em Itália.
A Riviera é muito parca em termos das especificações, limitando-se a indicar a potência de saída sobre 8 ohm do AFM50 (50 W) – para quem precisar de mais potência a Riviera propõe o AFM100, um monobloco de 100 W, e nada dizendo sobre as entradas do prévio, excepto que trabalham ao nível de linha e, portanto, devem aceitar sinais de entrada entre 0,5 e 1 V. O prévio APL10 está equipado com um controlo remoto ergonómico que permite comandar as funções principais a partir do local de audição.