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Accuphase E-5000

 Accuphase E-5000

João Zeferino

30 maio 2023

Um integrado com sangue na guelra


Audições

O Accuphase E-5000 substituiu a minha amplificação residente, ligado ao servidor / streamer Aurender ACS10, com o DAC Soulnote D2. A dar voz ao sistema estiveram as colunas Perlisten Audio S7t. A cablagem incluiu o cabo digital Audioquest Carbon USB, o Kimber Select KS-1121 na interligação analógica balanceada, e nas colunas os habituais Kimber Select KS-3033.

Ligado o E-5000 em modo “aquecimento”, com o álbum Café Blue da Patricia Barber, alguma coisa na sonoridade me captou a atenção o que me obrigou a prestar atenção ao que estava a ouvir. Bastaram alguns minutos e duas ou três músicas do álbum, nomeadamente Mourning Grace e Yellow Car para perceber estar na presença de um Accuphase muito especial. A primeira ideia que me passou pela cabeça foi precisamente: Isto é um integrado com sangue na guelra. Conhecendo diversos modelos da gama da marca nipónica, incluindo integrados e conjuntos de prévio+potência tanto em Classe A como AB, confesso a minha surpresa pelo que estava a ouvir.

e-5000_front_open

Os Accuphase têm tradicionalmente um som ponderado, suave e refinado. Com uma excelente resolução tímbrica e uma imagem estéreo enorme, quase etérea, que no caso dos modelos em classe A é mesmo etérea, contrastam com as sonoridades mais habituais dos tempos modernos, que procuram impressionar o ouvinte com um som mais ritmicamente incisivo, de enorme velocidade de resposta e um impacto dinâmico que se sente fisicamente. Essa nunca foi a aposta da Accuphase, e continua a não ser. Contudo, os últimos modelos que tenho ouvido e este E-5000 em particular, parecem indiciar uma certa concessão a uma sonoridade mais vívida, mais rápidos a responder às solicitações e dinamicamente mais extrovertidos.

Do meu ponto de vista essa opção faz todo o sentido. Apostar numa sonoridade mais ritmada e dinâmica, ainda que sem renegar a sua herança musical na gama de produtos em Classe AB e, por outro lado, manter a habitual sonoridade de supremo requinte e suavidade, timbre verdadeiro e imagem estéreo exemplar nos produtos da linha em Classe A, deixando a escolha à sensibilidade do cliente.

Depois da Patricia Barber, a 3ª sinfonia de Gustav Mahler revelou precisamente o que acabo de afirmar. A sinfonia inicia-se com um tema entoado pelas trompas, entrecortado por rápidos golpes de timbales, o primeiro dos quais em forte, o segundo mais intenso e o terceiro ainda mais intenso e acompanhado pelos pratos, seguindo-se de imediato o desenvolvimento que começa nos contrabaixos com apontamentos dos metais em pianíssimo. É uma peça extremamente dinâmica e interessante para efectuar uma análise do ponto de vista da capacidade de resolução de um sistema, que deve permitir não apenas uma clara percepção dos diferentes gradientes dinâmicos do início da peça, mas também resolver de um modo perceptível o ambiente da sala de concertos quando toda a orquestra se cala de repente e passa o desenvolvimento da peça musical aos contrabaixos. O Accuphase E-5000 passou esta prova com primor não apenas pela segurança demonstrada na execução dos grandes contrastes dinâmicos, mas principalmente porque permitiu uma fácil percepção do conjunto de temas em desenvolvimento no seio da orquestra.

Com o tema Slippin Away II de James Newton Howard & Friends (Sheffileld Lab - streaming Tidal), a entrada da bateria surgiu poderosa, com verdadeiro sentido de escala, uma escala que cresce com a entrada em cena dos sintetizadores, num claro desafio à estabilidade do sistema amplificador/colunas e de que o E-5000 se saiu, uma vez mais, com brio.

No que se refere à gama média e registos superiores o E-5000 não renega a sua origem e apresentou-me um palco sonoro pleno de equilíbrio, expansivo, volumétrico e tridimensional, capaz de envolver o ouvinte no acontecimento musical e apresentando esse mesmo acontecimento de uma forma natural, controlada e com total ausência de esforço. Foi precisamente esta facilidade na apresentação do acontecimento musical que me fez escolher como amplificação residente uns Accuphase C-2150/P-7300. Folgo em confirmar que a sonoridade Accuphase continua de boa saúde e que, apesar das alterações atrás apontadas, o E-5000 continua a exibir o tradicional som Accuphase, um som que tem algo de naturalmente inteligível, palpável, límpido, sem grão electrónico, características que se manifestam independentemente do volume ou da complexidade da obra musical.

Clip2

Conclusão

O Accuphase E-5000 é um amplificador integrado digno do estatuto de topo de gama. Imbuído de um conjunto de características técnicas herdadas dos modelos de prévios e amplificadores de potência separados da marca japonesa, pode mesmo ser comparado com alguns desses conjuntos e sair em vantagem, quer pela questão da funcionalidade e simplicidade de operação quer pela performance sonora de classe absolutamente de topo que provou ao longo do período de audições.

Sem renegar a sonoridade típica da marca, revela uma nova faceta sónica, mais vívida, com ritmos mais incisivos e uma dinâmica surpreendente que fazem dele uma opção mais universalista. Por outro lado, exibe uma potência mais do que generosa, que lhe permite conduzir com total à vontade praticamente todas as colunas existentes no mercado. Um surpreendente tomba-gigantes que convido o leitor a ouvir na Ultimate Audio Elite.




Lista de obras escutadas durante as audições


• I. Stravinsky, A Sagração da Primavera, Orq. Fil. Israel, Leonard Bernstein, DG
• G. Mahler – Sinfonia nº 3, Orquestra Sinf. Rádio Frankfurt, Denon
• Mozart, Requiem, Coro Câmara da RIAS, Orq. Barroca de Friburgo, René Jacobs, Tidal
• Richard Strauss, Quatro últimas canções, Anna Tomowa-Sintow, Orq. Fil. Berlim, H.V. Karajan, DG
• A. Bruckner – Sinfonia nº 7, Orquestra Sinfónica de Chicago, Bernard Haitink, Tidal
• S. Rachmaninov, Concerto p/piano e orquestra nº 2, Vladimir Ashkenazy, Orq. Concertgebouw Amesterdão, Bernard Haitink, DECCA
• Pink Floyd, The Final Cut, EMI
• Diana Krall, The girl in the other room, Tidal
• Patricia Kaas, Scène de Vie, Columbia
• Patricia Barber, Café Blue, Tidal
• James Newton Howard & Friends, Slippin Away II, Tidal


Especificações técnicas:

Potência de saída média em contínuo: 240/320 Watt a 8/4 Ohm. (2 Canais, 20 a 20 000 Hz)
Distorção por intermodulação: 0.01%
Resposta em frequência: 20 a 20 000 Hz +0, -0,5 dB
3 – 150 000 Hz +0, -3,0 dB (a 1 Watt)
Factor de amortecimento: 1000 (pot. nominal, 8 Ohm, 50 Hz)
Controlos de tonalidade: Graves: 300 Hz ±10 dB, Agudos: 3 kHz ±10 dB
Compensação Loudness: +6 dB (100 Hz)
Atenuação: -20 dB
Impedância: 4 - 16 Ohms (Saída colunas 1)
8 - 16 Ohm (Saída colunas 2)
Dimensões: 465x211x502 mm (LxAxC)
Peso líquido: 33.8 Kg
Preço: 14 900 €
Representante: Ultimate Audio

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