A faísca que dá vida à música
A combinação de ensaio destes dois cabos foi o meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, ligado ao prévio Nagra CLASSIC PHONO. As colunas eram as QUAD ESL63 Pro, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o amplificador de potência a ser alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. Ao longo do teste experimentei o cabo em três posições diferentes: entre fonte digital e prévio, entre o prévio de phono da Nagra e o prévio Inspiration e entre o prévio e o amplificador de potência da Constellation.
Inserido no meu sistema, primeiro entre a saída do Pro-Ject Cabo e a entrada do prévio Inspiration 1.0, o ThunderBird iluminava a música, mas nunca de forma Hi-Fi. Neste cabo os silêncios são silêncios e as notas que deles saem são tão imediatas que nos podem surpreender permanentemente, mesmo ouvindo faixas que se conhecem muito bem. Obtêm-se tantas mais informações de uma determinada música que se poderia pensar que ela soa mais alto, mas não é definitivamente o caso, os ouvidos estão apenas trabalhando de uma maneira muito mais relaxada e, como tal, conseguem discernir detalhes de uma maneira muito mais fácil. É ao mesmo tempo extremamente silencioso e altamente luminoso, uma combinação nada fácil de encontrar, e posso dizer que já ouvi bastantes cabos durante os 40 anos que me tenho dedicado a ouvir música usando o chapéu de crítico.
O ThunderBird traz a música até nós com uma facilidade desarmante, permitindo-nos usufruir dela sem qualquer esforço e, mais que isso, faz-nos sentir quase como se fôssemos parte integrante do processo musical em curso e não apenas um mero ouvinte. E isso foi especialmente patente quando mudei a posição em que o tinha colocado inicialmente para o colocar então entre a saída balanceada do Nagra CLASSIC PHONO e a entrada do prévio Inspiration 1.0. E aqui, em face das características que eu estou habituado a reconhecer no vinilo, o cabo da AudioQuest mostrou ser pura e simplesmente espectacular em termos da amplitude e resolução da imagem espacial e ainda na definição dos tempos inerentes a uma perfeita reprodução dos vários aspectos do processo musical. Mas o que é mais importante neste cabo é que não tem muito sentido analisar a sua performance olhando para um ou outro aspecto em especial mas sim tendo em conta o que ele faz em termos globais: poderia estar aqui a encher páginas e páginas falando no desempenho nos graves, nos médios, nos agudos, na envolvência da imagem espacial e assim por diante mas isso, em meu entender, não acrescentaria muito ao que já disse até agora. Seguramente que ele não será perfeito em tudo aquilo que faz, olhando ao microscópio talvez emitisse aqui algum comentário menos laudatório do que aqueles que fiz até agora mas isso não alteraria em nada as opiniões que transcrevi até agora. Estamos definitivamente na presença de um acessório que pode produzir efeitos altamente benéficos em muitos dos sistemas de áudio que por aí existem.
Depois de tantos encómios, que posso eu dizer do FireBird, um cabo que, dependendo do tamanho, pode custar quase o dobro do ThunderBird? A maneira mais fácil de me desenvencilhar desta situação seria dizer que é um pouco mais do mesmo, o que até nem é mentira, mais trata-se de um pouco mais que isso. Para começar a análise coloquei o FireBird exactamente na mesma posição em que tinha começado a ouvir o ThunderBird, ou seja, entre a fonte digital e o prévio Constellation Inspiration 1.0. As diferenças ouvidas traduziram-se em melhorias deste segundo cabo em relação ao ThunderBird, embora me seja difícil apreciar se, em termos absolutos, essas diferenças justificam o salto no preço, principalmente nos níveis em que estamos a falar.
Conforme os que me seguiram até aqui já repararam, nesta análise ainda não falei dos discos ou faixas que ouvi. Fi-lo de modo propositado, para fugir a estereótipos, mas penso que chegou a altura de desvendar alguns detalhes, começando pelo facto de que ouvi muitos LPs, alguns CDs e muitas faixas em streaming a partir do Tidal. Mas não posso deixar passar aqui, como que numa sentida homenagem aos Pink Floyd, a audição que fiz de um bocadinho do mais que aclamado álbum The Dark Side of The Moon, que este ano vê celebrados 50 anos desde o seu lançamento, usando o ThunderBird entre o Pro-Ject e o prévio Inspiration, na forma da faixa Brain Damage que esteve disponível durante talvez uma semana no TIDAL na versão «remasterizada» de 2023 e agora já não está. Se esta faixa é representativa do que vai estar disponível no álbum a lançar no dia 24 de Março deste ano numa versão de luxo, e daquilo que o ThunderBird consegue fazer a um sistema de áudio então só posso tirar o chapéu ao que ouvi em termos de naturalidade, espacialidade, coerência temporal e verdadeiro gozo de audição, tanto que ouvi esta faixa 3 vezes de seguida para em cada caso destrinçar sempre pequeninas coisas que na audição(ões) anterior(es) me tinham escapado. Mal posso esperar para ouvir o disco completo.
E, já que estamos aqui, penso que uma das faixas acima mencionadas que mais poderá servir para clarificar as diferenças de desempenho entre os dois cabos é a que é interpretada em conjunto por Gene Bertoncini e Michael Moore, com o nome I’m Getting Sentimental. É uma música lindíssima, rica em harmonias e na qual o FireBird conseguiu fazer-me sentir que os o guitarrista e o baixista tocavam tão perfeitamente no tom, sintonizados um com o outro, que soavam como se tivesse na minha frente um único instrumento, vivo, bonito, completo e fabulosamente musical. E pode ser esta característica de conseguir esta união musical que, para além daquilo que já disse atrás sobre o ThunderBird e que se aplica quase ipsis verbis ao FireBird, pode definir de maneira mais simples e resumida aquela que é a característica mais relevante deste último cabo: consegue trazer até nós um número imenso de detalhes, vívidos e luminosos, e apresenta-os com uma coerência musical embevecedora, com os sons a saírem em harmonia perfeita e do interior de um silêncio absoluto.
Conclusão
Não é fácil acrescentar aqui muitos mais comentários depois de tudo o que já disse atrás. Quem está nestas andanças há algum tempo já descobriu certamente que a mudança de cabos num sistema de áudio introduz alterações evidentes no seu desempenho, podendo essas alterações serem mais ou menos intensas e ainda serem ou não do agrado de quem as fez. Estes dois cabos da AudioQuest mostraram-me que, no meu sistema, as melhorias sentidas foram bem patentes e do meu inteiro agrado. As tecnologias desenvolvidas por Garth Powell provaram inequivocamente o seu valor e fica aqui desde já a minha recomendação sem reservas para todos os que tenham essa possibilidade que os ouçam. Por mim continuarei a ouvir seguramente por bastante tempo os ThunderBird, pois ficaram no meu sistema e não saem de cá.
Cabos de interconexão AudioQuest ThunderBird e FireBird
Preços para comprimentos de 1 metro, equipados com fichas XLR:
ThunderBird – 4 299 €
FireBird – 8 199 €
Distribuidor – Esotérico