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Soulnote D-2

Soulnote D-2

João Zeferino

27 janeiro 2023

Música com alma


Audições

O Soulnote D-2 foi ligado ao servido / streamer Aurender ACS10, tendo a amplificação ficado a cargo do conjunto Accuphase C-2150/P-7300. A dar voz ao sistema estiveram as colunas Perlisten Audio S7t. A cablagem incluiu o cabo digital AudioQuest Carbon USB, na interligação analógica balanceada o Kimber Select KS-1121 e nas colunas os habituais Kimber Select KS-3033.

As obras escutadas durante a avaliação foram, entre outras:

• G. Mahler – Sinfonia nº 9, Orquestra Sinf. Rádio Frankfurt, Eliahu Inbal, Denon
• L.V.Beethoven – Concerto p/violino e orquestra, Anne-Sophie Mutter, Orquestra filarmónica de Berlim, Herbert von Karajan, DG
• Brahms, Concerto p/piano e orquestra nº1, Nelson Freire, Orquestra Gewandhaus Leipiz, Riccardo Chailly, DECCA
• Verdi, Requiem, Coro e orquestra sinfónica de Londres, Richard Hickox, Chandos
• Shostakovich, Jazz Suites 1 e 2, Orq. Sinf. do Estado Russo, Dmitry Yablonsky, Tidal
• Maria João / Aki Takase – Alice, Enja Records
• Pink Floyd, The Final Cut, EMI
• Patricia Kaas, Scene de Vie, Tidal
• Patricia Barber, Nightclub, Tidal
Jazz at the Pawnshop, Prophone
• Dire Straits, Love over Gold, Vertigo

O Soulnote D-2 é um dos equipamentos menos hi-fi que ouvi até hoje. Por hi-fi entenda-se o sentido pejorativo do termo, como algo que pode ser sonicamente espectacular mas musicalmente desinteressante. Apesar disso, tudo o que o D-2 faz, faz bem, demonstrando sempre uma dinâmica desenvolta, extraordinária fluidez de discurso, realismo tímbrico a um nível referencial e uma transparência notável. Duas palavras descrevem bem, na minha opinião, o som do D-2, rigor e sobriedade.

2_Soulnote Rear

Ao longo do prolongado período de audições que me permitiu ter uma opinião muito segura das características do Soulnote, fiquei convicto que este é um DAC principalmente atractivo para quem ouve música de natureza acústica, clássica, jazz etc., já que sonoridades mais electronicamente processadas poderão fazer sentir a falta de alguma secura analítica e de alguma cintilância no extremo agudo que possa avivar o carácter por vezes sombrio do D-2. A utilização de um dos modos de filtragem FIR 1 ou 2 pode ser aqui benéfica, ao trocar alguma naturalidade da apresentação por uma reprodução mais incisiva, mais recortada e focada nos músicos individualmente em detrimento do evento musical como um todo. Com música de natureza acústica preferi sempre o modo NOS, pela naturalidade, espacialidade e densidade tímbrica da reprodução musical.

Com o Soulnote pressente-se na reprodução musical uma serenidade, uma tranquilidade na apresentação sonora que não é fruto de indolência ou timidez, antes o resultado de um completo controlo sobre a exposição dos diversos elementos que compõem o todo e que se nos apresentam como uma unidade coesa e coerente.

O D-2 não é um equipamento que impressione numa audição apressada, porque não demonstra um carácter esfuziante, um grave exageradamente impactante ou uma resolução microscópica que chamem a atenção sobre si próprio. No entanto, audições atentas levam-nos a perceber as suas qualidades musicais, o rigor tímbrico, a dinâmica desenvolta, ágil, mas realista, e desprovida de assombros artificiais e, principalmente, uma textura densa que expõe com facilidade a harmonia das peças orquestrais mais complexas de um modo pouco habitual no mundo digital ou só ao alcance de produtos com um custo proibitivo.

Quando ligado a uma fonte digital como o Aurender ACS10, O DAC proporciona um som de imaculada transparência, amplidão dinâmica e intrínseca musicalidade que lhe garante de imediato poder ser comparado, com vantagem, com quaisquer leitores de CD integrados do seu escalão de preços, e estamos a falar de um custo conjunto de cerca de 15 000 €. Ouça-se por exemplo o clássico Jazz at the Pawnshop, um agrupamento de jazz, num ambiente de clube nocturno e de natureza acústica. De repente o clarinete de Arne Domnérus faz a sua aparição de um modo tão repentino e realista que me faz dar um salto de surpresa. Sem qualquer esforço aparente, o DAC simplesmente permite que a dinâmica natural do instrumento se faça sentir e ouvir e isso é percebido pelo ouvido como música verdadeira, como se estivéssemos no local a apreciar a sessão.

As primeiras audições surpreenderam-me pelo poder e amplidão dos registos graves que de repente começaram a surgir de gravações que conheço bem mas que ainda não tinha ouvido assim, mais notório com os naipes de cordas ou os metais graves das grandes orquestras do que pela batida da bateria dos Pink Floyd ou da Patricia Barber. Esse poder nos registos graves confere às grandes orquestras uma escala e um poder verdadeiramente avassaladores, em conjunto com uma gama média densamente texturada e de luxuriante riqueza harmónica, encorpada, mas limpa e isenta de quaisquer gorduras excessivas e um registo superior que surge ligeiramente retraído na sua apresentação no palco sonoro, mas perfeitamente integrado na gama média, sempre correcto e doce em toda a extensão, características que em conjunto proporcionam audições totalmente envolventes e credíveis do ponto de vista do realismo musical.

4_Soulnote D2 Silver



Conclusão


Depois de ter passado umas semanas com um conversor D/A do calibre do Soulnote D-2, só a ideia de ter de o devolver e voltar para o sistema residente, por muito bom que este seja, era uma ideia que começava a dar-me calafrios. Não por qualquer demérito do leitor residente, um excelente leitor / DAC no seu segmento de preço, mas que simplesmente não pode competir com o D-2, que pertence a um outro campeonato. Não é assim de admirar que o Soulnote D-2 continue a cantar e a encantar(-me) integrado no meu sistema onde conquistou um lugar cativo por mérito próprio. Deixo um desafio ao caro leitor, faça um favor a si mesmo e procure ouvir o Soulnote D-2, que mais do que um bom DAC é uma fonte de música tocada com alma.



Especificações técnicas:

Formatos de sinal na entrada:
USB : PCM, DSD (DoP v1.1, ASIO nativo)
Coaxial/AES/EBU PCM,DSD(DoP v1.1)
Frequência de amostragem suportada:
USB Max.768 kHz (PCM) / Max.22,6 MHz (DSD)
Coaxial /AES/EBU Max.192 kHz (PCM) / Max.2,8 MHz (DSD64 DoP v1.1)
PCM bit rate:
USB 16 bit, 24 bit, 32 bit
Coaxial / AES/EBU 16 bit, 24 bit
Entradas Digitais USB (Type B), coaxial x2(SPDIF), AES/EBU x2
Entrada para Clock externo 10 MHz (BNC 50 Ohm)
Saídas analógicas XLR x1 par, RCA x1 par
Nível de saída (XLR) 5,6 Vrms, (RCA) 2,8 Vrms
Resposta em frequência 2 Hz a 120 kHz (+0/-1 dB)
Relação sinal/ruído 110 dB
Distorção harmónica total 0.008% (NOS/176.4 kHz)
Filtro analógico Passivo, bidimensional
Consumo 56 W
Dimensões 430(W)×160(H)×405(D)mm
Peso 17 kg
Preço: 8 490 Euros
Representante:Ultimate Audio