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DCS Bartók 2.0, quem precisa de mais?

DCS Bartók 2.0, quem precisa de mais?

Jorge Gonçalves

21 agosto 2022

DAC / streamer/ prévio e amplificador de auscultadores (como opção)


A dCS é uma empresa que desde o primeiro dia se tem dedicado a tentar extrair dos conteúdos digitais a melhor qualidade de som possível. Claro que não são os únicos, mas são dos poucos a atingir mais de 30 anos de existência com uma «saúde» invejável e a destacarem-se por empregarem tecnologias próprias e altamente sofisticadas nos seus equipamentos. Vale igualmente a pena pena recordar aqui que foram eles os grandes mentores da utilização do DSD, agora tão na moda, em termos da produção de masters digitais ao nível de estúdio.
Um dos aspectos em que a dCS mais se destaca de outros fabricantes de equipamentos digitais é no conversor Ring DAC, um conceito que tem evoluído constantemente ao longo de 20 anos e que foi patenteado pela dCS. Desde os conceitos matemáticos aos algoritmos desenvolvidos e aos chips do tipo Gate Array, para os quais é igualmente necessário desenvolver complexo software, pois é o programa interno que define o modo como as ligações entre as diversas portas (gates) se interligam entre si e, por consequência, os diversos tipos de processamento a que o sinal pode ser sujeito, tudo é feito «em casa». E este tudo inclui igualmente as estruturas metálicas e caixas utilizadas em todos os equipamentos da marca.


Descrição técnica


O Bartók que a Imacustica me disponibilizou tinha a cor negra, existindo ainda a alternativa do prateado. A caixa é elegante e bem sólida, com espessuras de metal que vão desde os 9 mm da tampa as 16 mm do painel frontal! Em termos de topologia de circuitos electrónicos e ergonomia de utilização pode dizer-se de uma maneira simplificada que o Bartók é como que um Rossini um pouco mais pequeno. Numa posição mais ou menos central temos um conjunto de teclas de comando directo que controlam as entradas, as diversas opções de filtragem digital, a saída de áudio, a entrada e saída do estado de repouso e ainda o acesso ao menu. No extremo esquerdo do painel está um mostrador OLED monocromático, com excelente legibilidade.
Continuando pelo painel frontal, destaca-se do lado direito um botão redondo que ajusta não apenas o nível de volume como também, usando a mesma roda codificadora digital, possibilita a navegação através dos vários itens do menu de configuração apresentado no mostrador. Em termos práticos já tive uma ou duas situações menos agradáveis ao usar a saída directa de equipamentos para ligar a um amplificador de potência, por isso prefiro sempre utilizar o meu prévio, até porque assim introduzo menos alterações na configuração habitual do meu sistema. Por outro lado, salvo algumas excepções normalmente bem caras, o controlo de volume no domínio digital implica quase sempre perda de resolução do sinal de áudio a baixos níveis de volume, por isso prefiro não arriscar mesmo e neste caso coloquei o sinal de saída no nível máximo de 2 V e passei adiante. Mas isso não quer dizer que outros utilizadores não tenham outras preferências, era só o que faltava (), até porque com a opção de saída analógica variável o Bartók transforma-se num DAC / Streamer / Prévio com possibilidade de reprodução de praticamente todo o tipo de fontes digitais.

28774_dCS Bartók (silver, rear)

Chegado à parte traseira, deparo-me com o expectável panorama de um vasto número de conectores que praticamente ocupam todo o painel. Começando pelas especificações das entradas digitais, eis aqui uma descrição mais ou menos completa, com a descrição a basear-se na informação que a dCS tem na sua página de Internet: porta de rede Ethernet através de um conector RJ45 – aceita ficheiros PCM com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 384 kHz e ainda DSD64 e DSD128 no formato DFF/DSF; entrada USB 2.0 tipo B – aceita ficheiros PCM com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 384 kHz, e ainda DSD64 e DSD128 no formato DoP; entrada USB tipo A On-The-Go – aceita ficheiros PCM com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 384 kHz e ainda DSD64 e DSD128 no formato DFF/DSF; 2 x entradas AES/EBU em conectores XLR fêmea de 3 pinos, que aceitam ficheiros PCM com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 192k kHz, DSD64 e DSD/128 no formato DoP; a entrada AES Duo aceita ficheiros PCM com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 88,2 a 384 kHz, DSD64 e DSD128 no formato DoP, e ainda dados SACD encriptados provenientes dos transportes da dCS; entrada RCA SPDIF, que aceita ficheiros com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 192 kHz em PCM e DSD64 no formato DoP; entrada SPDIF por ficha BNC, a qual aceita ficheiros com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 192 kHz em PCM e DSD64 no formato DoP; e, por fim, uma entrada óptica SPDIF por conector TOSLINK que aceita ficheiros PCM com resolução de 24 bit e frequências de amostragem de 44,1 a 96 kHz. Três fichas BNC permitem a ligação a um clock externo (duas entradas independentes) e a saída do clock interno para outros equipamentos, disponível quando se comuta o modo de sincronismo para Master. Para fechar o leque temos as saídas analógicas, balanceadas e não balanceadas, e a ficha Schuko de entrada da tensão do sector, equipada com um interruptor geral de corte de corrente.

Interior

A parte interior do chassis está quase totalmente cheia, destacando-se, quando olhando de frente, dois circuitos impressos de tamanho considerável, um situado do lado esquerdo, junto ao painel frontal, e que contém todos os circuitos de rectificação, filtragem e estabilização de tensão, sendo derivado daqui um amplo número de tensões contínuas, todas estabilizadas, obtidas a partir dos dois enrolamentos de uma transformado toroidal encapsulado e montado em suportes antivibração. À direita deste circuito impresso temos dois outros, montados de modo a ficarem sobrepostos, e onde se encontram os vários circuitos de processamento digital, com o Ring DAC no que fica na parte superior. A conversão Ring DAC é controlada a partir de um par de FPGA de alta velocidade da Xilinx, uma por canal, as quais controlam malhas de resistência SMD de elevada precisão. Estas FPGA são programadas a partir da memória flash de cada vez que o Bartók é alimentado, o que significa que será sempre muito fácil proceder em qualquer momento a aperfeiçoamentos no desempenho, bastando para tal carregar um novo firmware. É importante destacar aqui desde já que a implementação do Ring DAC utilizado no Bartók é exactamente a mesma incluída no equipamento digital topo de gama da marca, o conversor Vivaldi.

Placa alimentacao

Ao fundo, já quase junto ao painel traseiro, temos um outro circuito impresso, este de menores dimensões, o qual alberga os circuitos de streaming e foi encomendado, tal como acontece com um vasto número de outros fabricantes de equipamentos de high-end, à empresa austríaca Stream Unlimited, a qual fornece o hardware, ficando por conta da dCS o desenvolvimento do firmware e das aplicações que permitem o acesso aos diversos serviços de música tais como TIDAL, Qobuz, Spotify, Deezer e rádio por Internet. De modo muito interessante, o Bartók tem a especificação Roon Ready e faz a descodificação completa de ficheiros MQA, quer a partir da entrada Ethernet quer da entrada USB 2. A entrada do sector inclui um transformador minúsculo (0,3 VA de potência) que assegura que os circuitos de activação da alimentação principal ficam alimentados com o equipamento no estado de repouso. Existe ainda uma versão do Bartók que inclui um amplificador de auscultadores de alto nível e que possui mais um transformador de alimentação toroidal extra para alimentar esse amplificador, como se vê na foto abaixo.

dcs-bartok-11

A aplicação Mosaic, recentemente renovada, disponibiliza uma grande variedade de possibilidades de ajustes e afinações no Bartók, mais algumas a partir do momento (final de Maio deste ano) em que o firmware do equipamento foi actualizado para dar lugar a uma importante melhoria nos algoritmos de mapeação que controlam o dCS Ring DA e também melhoramentos na sobreamostragem em DSD, bem como disponibilizar novas opções de filtragem. Aliás, o upgrade para a 2.0 do Bartók foi a principal razão que despertou a minha curiosidade para ouvir finalmente um equipamento que foi lançado há cerca de 3 anos e sobre o qual tinha já escutado um bom naipe de entusiásticas opiniões.

As mapeações 2.0 dCS foram originalmente desenvolvidas para os modelos Vivaldi 2.0 e Rossini 2.0, mas estão então igualmente disponíveis para o modelo Bartók desde a data indicada. Estas mapeações controlam a forma como os dados são apresentados ao núcleo do Ring DAC. O Bartók inclui agora três tipos de mapeações.
• MAP 1 é a mapeação por defeito. Aqui, o núcleo do Ring DAC trabalha a 5.644 ou 6.14 MHz
• MAP 2 é a mapeação clássica já utilizada na versão 1 dos aparelhos dCS e trabalha no núcleo do Ring DAC a 2.822 ou 3.07 MHz
• MAP 3 é uma mapeação alternativa, onde o núcleo do Ring DAC trabalha agora a 5.644 ou 6.14 MHz
Está agora igualmente definida uma sobreamostragem em DSDx2 na sequência final da sobreamostragem em PCM antes da conversão para analógico. O acesso às definições de sobreamostragem para DSD pode ter lugar quer através da aplicação dCS Mosaic, quer no painel frontal.
Como de pode deduzir da descrição até aqui feita, o Bartók é uma máquina extremamente sofisticada e que não se sente seguramente nada diminuída perante os seus «irmãos» com preços 4 a 5 vezes acima. Mas o melhor é passar então às notas de audição, sob pena de começar a cansar os meus leitores.


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