Afinal Há Coisas Que (ainda) São O Que Parecem
Audições
Liguei o 1592MKII às colunas B&W 705 S2, ao Holo Audio Cyan DSD DAC através da ligação balanceada de linha por XLR, e ao leitor da Atoll SACD200 e ao streamer ARIES Mini através das entradas digitais. Devo dizer que também experimentei ligar directamente o Atoll ao 1592MKII através de uma ligação Toslink, e ainda um servidor doméstico WDMyCloudEX4000, mas o que me interessava era sobretudo a amplificação. Por isso, vou referir o teste sobretudo ao componente de amplificação com ligação às B&W e ao Cyan DSD DAC.
Numa abordagem geral, começo por dizer que o 1592MKII denuncia facilmente o seu “músculo” mostrando controlo absoluto e fácil sobre qualquer com que eu o alimente. Possui uma tonalidade muito ligeiramente sombria, o que beneficia instrumentos como os violoncelos e os clarinetes e adiciona musicalidade aos médios. Os agudos são bastante transparentes, não evidenciam nunca vestígios de qualquer estridência e não cansam após audições ininterruptas muito longas. A separação de canais, a dimensão do palco sonoro e a temporização estão a um excelente nível. Um interessante nível de detalhe, controlo e musicalidade são as palavras que melhor descrevem a minha experiência.
Mas passemos à audição mais detalhada.
Playlist
Die Freitagsakademie (dir. Katharina Suske) – Bach Concertos Lost & Found – CD DHM
Ensemble Amarillis (dir. Heloise Gaillard) – Jubilation Vénetienne – CD Mirare
Kate McGarry – Easy to Love – SACD Foné
Doug Webb Quintet – The Message – CD Positone
Sassa Jordan – Bitches Blues – CD Stony Plain
The Black Keys – Droupout Boogie – CD Nonesuch
No princípio, foi a clássica. A gravação da Freitagsakademie é simplesmente mágica. Os concertos de Bach do período de Cothen são dados como perdidos. No entanto, conhecendo as técnicas de Bach de reciclagem das suas próprias obras, Walter Hindermann tentou reverter o processo: “descobrir os concertos originais de Cothen a partir de reutilizações posteriores de Bach de partes desses concertos”. Não sei se Hindermann o conseguiu ou não, mas musicalmente, pelo menos, é um sucesso tremendo. O jogo dos timbres em diálogo dos oboés e violinos, a encruzilhada das melodias, a beleza soturna da viola grande (violone) e dos baixos, a agilidade da flauta e do cravo. O desempenho do 1592MKII foi estupendo, soturno e ao mesmo tempo vivaz, tudo a passar-se num palco sonoro que deixa os instrumentos respirar e com excelente definição dos timbres. A seguir, vem a gravação exuberante, mas imponente dos Amarillis que simula uma celebração veneziana a partir de obras de Vivaldi e Caldara. Inclui solistas, orquestra, coros e órgão. Será difícil obter um melhor teste ao controlo do 1592MKII sobre grandes sonoras, sobre separação de solistas e orquestra e da extensão do palco. Em tudo isso, o 1592MKII passou com grande distinção.
Depois, o jazz. Sendo a gravação de Kate McGarry em SACD, tive de ligar o Atoll SACD directamente ao 1592MKII por XLR e dispensar o Holo Cyan DSD DAC. A gravação é de cortar a respiração. A mestria com que McGarry utiliza o rubato com fins interpretativos é simplesmente ímpar e o seu fraseado é totalmente o de um saxofone. Jazz do mais alto nível. O desempenho do 1592MKII foi irrepreensível, separando os timbres na perfeição, deixando entrever os inúmeros jogos com que os instrumentistas gostam de desafiar a solista. A temporização, em particular, foi impecável. Doug Webb apresenta um agrupamento de instrumentistas totalmente fora do vulgar, com 3 saxofonistas, órgão e bateria. Um grupo super-dinâmico, intenso e cheio de irreprimível swing. Mais uma vez, uma prova de domínio e controlo mas, neste caso também, de temporização e transparência. Os sopros debitam o que lhes vai na alma, e o RA1592MKII nunca permite estridências indesejadas, nem excesso de brilho que provoquem cansaço na audição.
Finalmente, no rock - uma cantora de Blues-Rock de carreira firmada (Sass Jordan) e os grandes Black Keys. Muita emoção, muita electricidade, muito gozo. O RA1592MKII mostra que, apesar do peso do chassis, move montanhas se necessário for, e que possui um atributo insubstituível – passa no teste do pezinho. Quer dizer, põe-nos a bater o pezinho.
Conclusão
Será o MKII um avanço revolucionário relativamente ao 1592? Não seria de esperar que fosse, afinal a notação MKII serve para posicionar um produto na sua linha temporal de produção e desenvolvimento: indica quão recente o produto é ou qual o nível de progresso no desenvolvimento desse produto. Mudanças mais substantivas dão normalmente origem a uma referência nova. Mas não posso deixar de dizer que notei uma diferença bem positiva na energia, ou seja, o 1592 soava como que a um maior volume (pareceu-me soar um pouco mais alto do que 1592 mas tenho a certeza que só notei porque pude fazer um teste A/B, com ambos lado a lado) e também uma ligeiramente melhor definição espacial e um maior detalhe. Existe também a compatibilização com a norma MQA e com a App da Roon, com a troca do DAC a tornar-se essencial devido ao grande incêndio que assolou a fábrica da AKM no final de 2020
O que eu acho do Rotel 1592MKII? Bom, o meu amplificador residente é um RA-1592 e o 1592MKII consegue ser um melhor em duas ou três áreas, atrás descritas, e custa o mesmo. Mais palavras para quê? Existem vários amplificadores melhores do que o 1592MKII mas diria que custam, pelo menos, o triplo. Considerando a relação qualidade / preço, a recomendação só pode ser a mais favorável possível. Afinal, escolhi para meu amplificador o seu irmão mais velho da linha de produção e isso diz tudo.
Amplificador Integrado Rotel 1592MKII
Preço: 2 799 €
Representante: Sarte Audio Elite
Telef.: +34 963 51 07 98
Web: Sarte Audio