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High MEGA End Music

High MEGA End Music

Pedro Flores

13 janeiro 2024

A música no futuro, ou melhor, futurologia comportamental


Divirto-me muito com o “do que é que os nossos sucessores vão rir daqui a cinquenta ou sessenta anos”? Que hábitos / costumes actuais vão ser hilariantes para eles? Consigo lembrar-me de três ou quatro… No que ao áudio diz respeito, será que vão rir de ouvirmos música resultante de um processo com três estações – fonte / amplificação / colunas? Que um sinal seja emitido, amplificado e enviado pelo ar até aos nossos ouvidos? Ou sentar-se-ão para trás a rir das duas “coisas” que nos apertam as orelhas; às vezes, enfiadas nas ditas orelhas? Os mais excêntricos já comprimiram ou juntaram duas (ou mesmo as três) estações, mas… em 2024 ainda se ouve música assim, de forma algo rústica e primitiva.

Mega Music 1

Pois bem, eu tive acesso (nem me perguntem como…) à forma como ouvem música no ano da Graça do Senhor de 2084. Aliás, no ano de 2084, já não há isso de “Graça do Senhor”, é tudo muito terra-a-terra. Outrossim, todos pensam mais ou menos o mesmo, de forma algo uniformizada e padronizada…
E há uma grande diferença: é tudo sentido, não ouvido. Eles percebem a música por uma espécie de vibração, que lhes percorre o corpo. Uma espécie de arrepio. Resumidamente, há uma transmissão quântica, que faz vibrar a matéria de que se compõe o corpo humano. Comandado pelo pensamento e com diversas finalidades, como receber conteúdos de entretenimento. Em 2084 o som não se transmite pelo ar e o mundo é um local silencioso. Silencioso e limpo, já que não há o menor vislumbre de poluição, desde que a energia gerada pelo movimento (“Energia da Impermanência” - há quem lhe chame “do Impermanente”) substituiu qualquer outra fonte. Tudo faz parte do processo, tudo está em permanente movimento; também a música e os Impermanentes. Consequentemente, não há limitações na gestão da energia e na sua qualidade. Um pouco como alguns dos actuais relógios de pulso, mas na versão 100.0 e à escala global. E também já não há plástico, desapareceu em consequência da massificação de um seu derivado, mas instantaneamente biodegradável. Pelo não uso, ou seja, só mantém a forma, enquanto utilizado. Caso não, é natural e rapidamente degradável na natureza, podendo servir de biomassa. 

Mega Music 2

Os serviços de streaming são o centro do entretenimento. E integram e gerem ainda as comunicações, contribuindo para o silêncio reinante. O Impermanente pode escutar música em qualquer lado. A velocidade MEGA25 permite aceder a conteúdos áudio /vídeo high MEGA end (deixou de haver distinção entre resolução e definição). Mas uma ética exemplarmente padronizada, impõe que se desfrute de alguns conteúdos de forma recatada. A realidade inteligente (RI) está muito difundida e cooperante, não sem alguns problemas ainda por resolver. Uns cómicos, outros com algum drama. 
Assim, a qualidade do arrepio é independente da sala de audição, dos cabos ou da gestão da energia no sistema; nada disto existe. E da qualidade do suporte / gravação, já que o sinal chega ao Impermanente com uma qualidade isenta de suporte físico ou digital (esta parte não tive capacidade para perceber). 
Quer isto dizer que a música promove o mesmo tipo de vibração e satisfação a todos os Impermanentes? Não exactamente… A sociedade é algo uniformizada e padronizada, mas uns podem ser menos uniformizados e padronizados que outros! O segredo está na composição da matéria que compõe o corpo humano. Em 2084 os seres humanos já não são totalmente naturais, existem híbridos de tipo um, dois ou três (do mais rústico – natural ao tecnológico). Sim, não tiveram muita imaginação na classificação; aliás, criatividade e imaginação são conceitos que também não abundam nos Impermanentes. Mentes especialmente ocupadas, tendem a conseguir ouvir apenas “música de elevador”. Uma restritíssima minoria é capaz de emocionar-se com música, numa espécie de prazer vintage, solitário e antissocial. 

Mega Music 3

Já convivemos actualmente com exemplos de reprodução futurista de música. A velocidade e estabilidade nas comunicações sem fios, projecta-nos para um futuro breve. Mas subsistem vícios primários, como o de qualificar a música como “popular” ou “de qualidade”. Outros, mais empedernidos ainda, discutem encarniçadamente se o que escutam é hi-fi ou high-end… É isto sinal de modernidade? Continuo a rodar o dedo sobre a ponta do nariz…