Uma grande oportunidade de celebração dos 50 anos da Wilson e do Crime of the Century, dos Supertramp.
As sessões de música aos sábados de manhã na Imacustica já se tornaram um momento privilegiado para ouvir boa música e fazer criar interessantes tertúlias de audiófilos e melómanos. Desta vez houve dois motivos de celebração: os cinquentenários da Wilson Audio e do lançamento do disco Crime of the Century, dos Supertramp.
E para celebrar com qualidade a «festa» da Wilson, nada melhor que ouvir o modelo das colunas que colocaram a marca nas bocas de iodo o mundo e que foram recentemente relançadas, as WATT/Puppy. Tal como disse no meu artigo publicado em Setembro( Wilson WATT/Puppy regressam) as WATT/Pupy de última geração (re) apareceram com grande alarido no show de Munique deste ano, incluindo todos os refinamentos tecnológicos que as enormes capacidades de pesquisa e desenvolvimento com que a Wilson se equipou nos últimos tempos permitiam. E tudo começa na utilização dos três materiais, com as simples designações X, S e V, recentemente desenvolvidos pela marca. O material S é utilizado para os travamentos internos e para a caixa externa, o S para o acoplamento da câmara de médios ao baffle frontal e, finalmente, o V é aplicado no topo da caixa das PUPPY, funcionando como uma interface absorsora de vibrações da caixa superior. E convém desde já realçar que as novas WATT/Puppy foram pensadas como uma coluna global e não como duas caixas uma em cima da outra, embora as capacidades de ajuste do módulo superior sejam relativamente mais limitadas do que nos modelos mais acima da Wilson, o que é natural.
Em termos de altifalantes, ou unidades activas (não vejo razão alguma para que se utilize o termo «speaker», ainda por cima porque em inglês esta palavra tem um significado duplo, tanto designando a coluna com um dos seus altifalantes), tudo começa na unidade superior onde brilham o tão gabado altifalante de médios de 7 polegada com íman de AlNiCo (alumínio, níquel e cobalto) igual aos que são utilizados nas Wilson Chronosonic XVX, Alexx V, Alexia V e Sasha V. Complementa-o, na mesma caixa, o tweeter CSC, originalmente desenvolvido para as Alexia V e Sasha V, com cúpula de tecido têxtil tratado de 25 mm de diâmetro. Na caixa inferior temos dois altifalantes de graves com cone de celulose composta, ou seja, papel tratado. O crossover utiliza os já icónicos condensadores RelCap que se encontram em todas as colunas da Wilson e que são fabricados na mesma unidade de produção das colunas utilizando tecnologias patenteadas e rebaptizados pela marca como AudioCapX-WA na sequência dos procedimentos originais aplicados na sua produção. No exterior do módulo superior da WATT/Puppy encontramos as bem conhecidas resistências de ajuste do nível de médios e agudos, fixadas a dois pares de terminais, e ainda um interessante acessório que quase parece um goniómetro e que, para além de uma bolha de nível para garantir a horizontalidade, inclui um quadrante graduado que permite calibrar com precisão a posição relativa dos dois módulos. No meio dos terminais com as resistências, uma medalha assinala o 50.º aniversário da Wilson.
O Crime of the Century, dos Supertramp, foi lançado há 50 anos e foi um dos maiores sucessos da banda., fazendo parte da lista da Rolling Stone dos 50 melhores álbuns de rock de todos os tempos. Foi gravado em dois estúdios, Trident e Ramport, e das 48 canções originais foram escolhidas 8. Teve um grande número de reedições desde 1974 e foi mesmo o primeiro LP de rock a ser lançado pela Mobile Fidelity. Vendeu mais de dois milhões de cópias e ainda hoje é muito apreciado com faixas como Dreamer a receberem aplausos de diversos quadrantes e manterem-se no primeiro lugar das listas de preferência em vários países do mundo. A versão do LP ouvida foi a de 2014, um remaster produzido por Ray Staff.
As sessões que tiveram lugar na Imacustica Lisboa contaram uma vez mais com a presença e os profundos conhecimentos de Carlos Barbosa, em articulação com o Ricardo Polónia, o maestro do sistema. E, nesse sistema, para além das WATT/Puppy, brilhavam em especial os monoblocos Audio Research Reference 330, igualmente lançados no último High-End Show de Munique. Empregam a mais recente versão das famosas válvulas KT, as KT170, no andar de saída, com três pares destas válvulas a garantirem um potência de 330 W, e a tensão de alimentação dos andares de excitação e entrada é estabilizada com um válvula 65550 e uma 6H30. A topologia interna assenta num balanceamento completo, com polarização automática do andar de saída, e num circuito de controlo que desliga totalmente o equipamento se estiver inactivo mais de duas horas. O restante equipamento consistia no andar de phono e prévio igualmente da linha Reference, no gira-discos Tech Das Air Force 3 e, na frente digital, num conjunto dCS Vivaldi complementado com o leitor de CDs Rossini.
Ouvir um disco que já se ouvi por mais de uma centena de vezes (tenho um exemplar de 1977, comprado na Valentim de Carvalho, que até tem uma prensagem com muita qualidade, e o CD da Mobile Fidelity) tem sempre um misto de antecipação e de déjà-vu: será que desta vez vou ouvir aquilo que nunca ouvi ou afinal já não há nada de novo a ouvir’ Bom, para começar, o sistema em que ouvi o Crime of the Century não tem nada a ver com o meu, onde o escutei a maioria da centena de vezes. Por outro lado, tratava-se de uma prensagem moderna de uma remasterização, em vinilo de 180 gramas, portanto seguramente melhor que o meu já bem «rodado» LP. Assim sendo, nada como começar com espírito e ouvidos bem abertos e livres de quaisquer preconceitos.
E valeu a pena porque a sala cheia do auditório grande da Imacustica pôde conhecer algo mais sobre a inspiração por detrás de algumas das faixas, seguramente Pink Floyd e Police, segundo Carlos Barbosa, mas também ouvir rock como raramente se consegue ouvir porque o rock exige níveis de pressão sonora bem superiores ao que se pode usar em casa com segurança mas, ao mesmo tempo, há detalhes e níveis de interpretação que exigem uma grande sistema para serem apreciados. E foi isso mesmo que tive como resultado: detalhes que só as WATT/Puppy conseguem apresentar e níveis de SPL mais que suficientes para fazer o sangue correr mais depressa e a adrenalina vir ao de cima, embora sempre com uma limpidez cristalina. Bater o pé foi uma constante e no fim quase que dava vontade de gritar «Bis». Não foi como se ouvisse o disco pela primeira vez mas foi apreciar faixas que tão bem conhecia segundo uma nova perspectiva.
Ricardo Polónia e Carlos Barbosa dinamizaram uma vez mais esta memorável sessão.
E não fui só eu que me senti assim pois a sessão realizada durante a manhã teve de ser repetida porque a sala estava completamente cheia e cá fora estavam pelo menos outros tantos que já lá não cabiam. Um verdadeiro sucesso, esta dupla celebração que provou uma vez mais, caso isso fosse necessário, que a música de alta qualidade tocada num grande sistema tem sempre adeptos entusiasmados para a ouvir. Parabéns à equipa da Imacustica por mais este grande evento.