Sons analógicos de referência na Ajasom
Decorreu no sábado passado um evento organizado pela Ajasom e pela Nagra onde foi possível ouvir alguns dos melhores equipamentos que a marca suíça propõe actualmente aos amantes da boa música, combinados com outras marcas representadas pela Ajasom. O novo responsável pelas vendas e marketing da Nagra, Kerry St. James, esteve presente e trouxe consigo muitos discos de vinilo que encantaram quem os ouviu. De entre todos eles destacava-se o que continha a última gravação ao vivo de Miles Davis no festival de jazz de Montreux, do qual a Nagra é um dos patrocinadores principais há muitos anos.
E é mesmo verdade, durante este evento apenas se ouviram discos de vinilo, com a grande novidade de se poderem ouvir dois produtos que vão estar presentes pela primeira vez no High-End show de Munique: a nova cabeça de gira-discos Reference MC e o prévio de phono HD PHONO. O gira-discos era o Reference Anniversary lançado em 2021 para comemorar o 70.º aniversário da Nagra e tem como grande novidade o sistema de accionamento do prato, em fase de ser patenteado, baseado em dois motores de corrente contínua e de alta precisão, de fabricação suíça. A velocidade de rotação é medida ao longo de uma janela de 20 segundos contados a partir do momento em que o prato começa a girar, sendo os resultados comparados com uma referência gerada por um cristal de quartzo. Qualquer pequeno desvio é compensado imediatamente e durante a rotação subsequente do prato não são efectuados quaisquer ajustes posteriores pois os motores ficam a funcionar numa malha fechada. A tracção é por correia, que oi desenvolvida tendo como inspiração a que foi utilizada no mítico gravador de fita Nagra IV-S. Uma fonte de alimentação separada garante o fornecimento de energia ao gira-discos.
O HD PHONO é o resultado de anos de desenvolvimento e surge na sequência do CLASSIC PHONO, desde si já muito bem recebido por todos os amantes dos discos de vinilo. Uma vez mais tem uma fonte de alimentação separada, equipada com super condensadores que funcionam como uma bateria de alta capacidade e baixíssima resistência interna. O valor da resistência de carga da cabeça pode ser seleccionado através de um controlo remoto entre um mínimo de 10 ohm e um máximo de 390 ohm, em passos tão finos como 5 ohm. Nas entradas para cabeças MC (duas) são utilizados transformadores com núcleo de cobalto tratado criogenicamente durante várias semanas, com um ganho de 26 dB. Os andares de amplificação funcionam a válvulas e o ganho máximo é de 68,5 dB. Para além das duas entradas para cabeças MC existe ainda uma outra para MM e as curvas de igualização disponíveis incluem as seguintes: RIAA,TELDEC, NAB 100µS, VICTOR EUR e VICTOR USA. A cabeça Nagra Reference MC4 tem enrolamentos duplos de fio de prata e um cantilever de rubi, disponibilizando um nível de saída máximo de 0,3 mV e equipava o braço unipivot Reference instalado no gira-discos Reference atrás mencionado.
Os restantes elementos deste incrível sistema analógico incluíam o prévio CLASSIC PREAMP, ligado a dois CLASSIC AMP, amplificadores de potência mono, os quais alimentavam um par de colunas Kharma Exquisite Midi 3.0. Um regenerador de tensão de sector da Stromtank garantia a alimentação de todo o sistema.
Permaneci na Ajasom desde que cheguei até que fui «forçado» a sair (metaforicamente, claro) e fiquei com pena de não ter chegado mais cedo porque foi pura e simplesmente a melhor sessão de audição de discos de vinilo em que já estive presente. Não apenas pelos equipamentos de reprodução superlativos, não apenas por alguns discos igualmente superlativos, não apenas pela excelente apresentação de Kerry St. James, mas pura e simplesmente pelo conjunto de tudo isto e muito mais. Quem passa a vida a dizer que o CD é que é porque tem uma gama dinâmica (teórica) de mais de 90 dB, enquanto um disco de vinilo muito bem gravada não ultrapassará os 65…66 dB, tem que ouvir um sistema destes: a dinâmica, os silêncios, a perfeição dos timbres das vozes e instrumentos, os palcos sonoros amplos, de uma volumetria perfeitamente tridimensional mas com uma identificação absoluta de quem e onde estava a tocar ou cantar, tudo era de deixar qualquer um colado ao sofá por horas e horas sem vontade de dali sair e acabar com aqueles momentos perfeitos de exaltação musical. Os discos ouvidos foram desde os Doors (Riders on the Storm) que ouvi para aí mais de uma centena de vezes, muitas delas no saudoso Em Órbita, com uns vibratos de guitarra que nunca sonhei que existissem em nenhuma dessas outras ocasiões, o mencionado disco de Miles Davis que me colocou na plateia do festival de Montreux, Ben Webster em Ben´s Blues fez-me ouvir notas de piano quase inigualáveis em termos de perfeição tímbrica, uma Marcha para o Suplício, da Sinfonia Fantástica de Berlioz, que me levou ao paraíso, enfim, tanta coisa ouvi que, como alguns audiófilos diziam nos Audioshows quando saíam de algumas salas: fiquei com os ouvidos lavados.
Tive ainda oportunidade de espreitar a sala de cinema e apreciar a nova representação da Ajasom, a SIM2, através do seu projector Crystal 4 Sh, o qual comemora os 30 anos da marca. Este é um projector que utiliza uma fonte de luz híbrida a laser e um único chip DMD de 0,66 polegadas de diagonal. A imagem é verdadeiramente cinematográfica e convida-nos e ver não só os grandes filmes mas também os desses grandes filmes que tenham a maior qualidade possível. E quanto a isso, digam o que disserem, nada ultrapassa um bom Blu-ray 4K – o streaming é muito prático mas tem um nível de compressão que um bom projector nos revela logo existir, queira ou não se queira.
Tudo somado, foi uma tarde inesquecível passada na Ajasom e um hino ao vinilo. Fiquei com pena de não poder ouvir discos de vinilo àquele nível em minha casa mas fiquei ao mesmo tempo muito satisfeito com as memórias auditivas que de lá trouxe e que ficarão comigo para sempre. Aliás, essa é a função dos grandes sistemas, fazer-nos ouvir e experimentar sensações que de outro modo não teríamos oportunidade de apreciar.