Wilson Audio Alexia V

Jorge Gonçalves

23 novembro 2022

A sagração da música

Dos componentes de áudio superlativos fazia parte igualmente o gravador de bobines Metaxas T-RX, também chamado Tourbillon devido ao facto de ser o primeiro gravador deste tipo a utilizar a tecnologia do intrincado mecanismo de relojoaria desenvolvido há mais de 200 anos pelo relojoeiro francês Breguet para estabilizar a velocidade de movimento da fita magnética. A versão utilizada no T-RX recorre a um microcontrolador ARM-Cortex para sincronizar os dois motores do cabrestante e os outros dois que accionam as bobinas com os dois motores lineares ACTUONIX que, por sua vez, controlam o cabrestante duplo. Este é um conceito revolucionário que saiu da cabeça de Kostas Metaxas e está implementado num equipamento que uma vez mais tem um desenho absolutamente arrebatador.

A complementar toda esta requintada parafernália tínhamos um amplo conjunto de equipamentos de áudio de topo desde vários componentes de áudio digital dCS da gama Vivaldi Apex, até ao gira-discos TechDAS Air Force III e ao andar de phono Masterline 7, na área dos discos analógicos, mas vou agora falar um pouco sobre aquele que foi o motivo principal para juntar numa sala só seguramente um dos mais completos sistemas de áudio que alguma vez esteve presente em todo o mundo, ou seja, a estreia das Alexia XVX. E que posso eu dizer, depois de ter estado presente numa das 3 sessões especiais que tiveram lugar na sexta-feira e na qual esteve presente um vasto leque de convidados da Imacustica. Ricardo Franassovici foi o maestro que nos deliciou com uma playlist que tinha dentro de si a aura mágica do saudoso Luís Campos e foi coadjuvado pelo Miguel Azevedo, o mais recente elemento da equipa da Imacustica.

Palavras para quê? Ricardo Franassovici é indubitavelmente a grande figura do mundo do high-end e continua a honrar-nos com a sua presença sempre que temos em Portugal um evento de alto nível. E a estreia mundial das Alexia V merece sem dúvida esse qualificativo.


E que posso dizer das Wilson dentro deste contexto em termos de acompanhamento e depois de me ter sido servido um opíparo cardápio musical que foi desde a música clássica à electrónica e ao fado, com a cereja no topo do bolo da reprodução no gravador de fita Metaxas de uma fita cópia da fita master da faixa Wish You Were Here, dos Pink Floyd? Pois que elas possuem uma impressionante escala dinâmica, com uma integração perfeitamente divinal entre as diversas unidades activas e que cantam música, ou melhor, respiram música. O tweeter é qualquer coisa de fenomenal pela sua extensão e limpidez, mas a faixa dos graves não lhe fica nada atrás, com uma solidez de rocha e uma extensão que quase não se dá por ela a não ser quando quase nos dá um soco no peito!

Miguel Azevedo aos comandos do Metaxas T-RX


Estas colunas têm uma flexibilidade tal, um golpe de rins de ginasta de competição, que todo o tipo de música lhes cai bem, mesmo a electrónica de batida mais vincada, quase de «bate-estaca», qualificativo que ouvi da voz da saudosa Elis Regina numa entrevista e nunca mais esqueci por realmente designa de maneira perfeita a batida desse tipo de grave. O palco espacial é do tamanho do mundo, embora mantenha sempre uma quase microscópica identificação em termos estereofónicos, no sentido volumétrico, mesmo dos detalhes de intensidade mais ínfima.

Um vislumbre da atenta audiência que obrigou à realização de três sessões na sexta-feira e que no sábado acorreu ainda em maior número à Imacustica.


Foi um momento realmente muito especial, um reviver de tantas coisas e um reencontrar de tantos velhos amigos e conhecidos de quem já tinha saudades e, mais importante que tudo isso, foi uma celebração da música e uma grande homenagem ao Ricardo, ao manuel e á sua equipa pelo que têm feito pelo áudio de qualidade. O Luís infelizmente já não estava lá fisicamente com a sua sempre afável presença tutelar, mas tenho a certeza de que estava no espírito de todos nós.

Da esquerda para a direita: JVH, compagnon de route durante uma boa parte dos quase 40 anos de «viagens» pelo mundo do áudio; Manuel Dias, que pura e simplesmente começou o high-end em Portugal e a que todos os que gostam de áudio de qualidade muito devem; Jorge Gonçalves.

Os bons sons não aparecem por artes de magia. Por detrás daquilo que ouvimos estava uma completa equipa de profissionais que trabalhou durante muitos dias para instalar e afinar os mais ínfimos detalhes até que cada componente do complexo sistema de áudio estivesse em condições de dar o seu melhor.