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Amplificador integrado M2Tech Classic

Amplificador integrado M2Tech Classic

Miguel Marques

29 setembro 2025

Um amplificador elegante, completamente analógico e com um som muito difícil de criticar.


Dediquei-me depois à escuta propriamente dita, precedendo o Classic com um Eversolo A6 Master Edition Gen 2, ligado por XLR, alimentando umas KEF LS50 (versão original), com a música ser maioritariamente servida por um NAS a correr MinimServer, tendo o Qobuz e o seu protocolo Qobuz Connect sido usados também, ocasionalmente. A minha primeira escolha passou pelo clássico Kind of Blue (1959), do trompetista Miles Davis, aqui na sua versão em SACD de 2002 (remasterizada por Mark Wilder, o grande especialista deste disco, nos estúdios da Sony), «ripada» para FLAC (24 bits 88,2 kHz, Peak -1,85 dB, DR14). Apesar das deficiências da gravação (contrabaixo pouco presente na mistura, distorção em alguns microfones, entre outras), é sempre um disco que vale a pena ser revisitado, não obstante a sua influência ser muito menor dentro do meio do jazz do que muitos pensam, ao contrário, por exemplo, do Segundo Quinteto de Miles Davis, quiçá o grupo mais influente da história deste género. Na circular balada Blue in Green (composição de Bill Evans e não de Miles Davis, ao contrário do que por aí se vê escrito - o disco poderia aliás ter sido também creditado ao pianista norte-americano, responsável por muita da estética impressionista desta gravação), o solo de John Coltrane, um dos mais líricos da sua carreira, soa timbricamente irrepreensível, com excelente separação com o acompanhamento de Bill Evans, apesar de ambos estarem “puxados” para a coluna esquerda. Na magnífica introdução que Gill Evans (o compositor e arranjador, não confundir com o pianista Bill Evans) compôs para So What, o piano e o contrabaixo mostram também boa separação, separação essa que se mantém quando toda a banda entra para o tema propriamente dito - já nos solos, magnífico o timbre da trompete de Miles Davis, que mostra neste solo o seu incomparável uso de espaço, e o realismo dos timbres da secção rítmica, tanto no contrabaixo de Paul Chambers (que beneficia de uns dBs extra de equalização nos graves, cortesia do Eversolo, culpa total da gravação e não do Classic) como na discreta mas precisa bateria de Jimmy Cobb (onde o rimshot de tarola em All Blues foi também magnificamente reproduzido). Outro pormenor interessante foi o quão fácil foi distinguir o forte contraste entre os solos de Miles Davis, John Coltrane e Canoonball Adderley ao longo do disco, ou entre os pianistas Bill Evans e Wynton Kelly (que toca a segunda faixa, Freddie Freeloader, num estilo muito mais bluesy e stacatto que Bill Evans, com os dedos mais direitos, como era, e ainda é por vezes, mais comum nos pianistas negros) mostrando que o M2Tech nos liga, e muito, à música.

Foto 4 M2Tech Classic Amp

Ainda no jazz, passei em seguida para o disco de 2011 After the Storm (16 bits-44,1 kHz, Peak +0,53 dB, DR13, Chandra Records), do baterista Matt Slocum, acompanhado pelo superlativo pianista Gerald Clayton (filho do também superlativo John Clayton, contrabaixista de Diana Krall, entre outros) e por Massimo Biolcati no contrabaixo. Muito bem gravado, o timbre delicado do piano de Gerald Clayton foi muito bem reproduzido pelo Classic, particularmente no standard It’s Easy to Remember (Rodgers & Hart); já em Everything I Love (Cole Porter) destaca-se o realismo das escovas na tarola de Matt Slocum e o peso dos graves do contrabaixo. Também as dinâmicas, especialmente no crescendo (quando o contrabaixo entra em walking bass e Matt Slocum troca as escovas pelas baquetas) estiveram a um nível exemplar, quiçá acima do que esta gama de preço faria esperar. Comecei aqui também a perceber uma característica deste Classic, que já tinha também percebido no disco anterior - é um amplificador que soa substancialmente melhor quando se puxa pelo volume, com o som a «abrir» de forma evidente.

Passei em seguida para os britânicos Rolling Stones, para ver como se portava o Classic em modo rock - tendo escolhido uma colectânea feita por mim, parte do meu servidor, com temas escolhidos a partir de vários SACD da banda, convertidos para FLAC 24-88,2 (estes SACD dos Stones, do início dos anos 2000, são aliás altamente recomendados, com excelentes «masterizações», o que tantas vezes não é o caso com a banda britânica). A música dos Stones apresenta vários desafios a um sistema - por muito boas que as «masterizações» sejam, as gravações nunca foram brilhantes, devido às limitações inerentes à época, e, se podemos classificar esta música com rock, as muitas influências do blues e do soul, e a presença de instrumentos como o piano ou a harmónica, tornam estes discos um teste mais exigente a um sistema do que um disco mais comum de rock. Mas o M2Tech portou-se à altura - em Beast of Burden, os falsetes de Jagger soam muito realistas, assim como as guitarras de Keith Richards e Ronnie Wood, em hard pan (uma toda à esquerda, a outra toda à direita), a distinguirem-se perfeitamente (e o mesmo com a separação entre as lead vocals de Mick Jagger e os coros de Keith Richards). Já em Miss You, logo na entrada, soa muito, muito bem a bateria de Charlie Watts, com o bombo e a tarola particularmente realistas, assim como a harmónica de Sugar Blue, em uníssona com a guitarra, mas sem nunca se embrulharem, distinguindo-se sem nenhuma dificuldade. Ao longo da canção, a voz de Jagger, com o seu lado mais caricatural e teatral muito bem vincado, é sempre bem tocada não só timbricamente mas principalmente emocionalmente, sendo mais uma vez fácil sentirmos ligação à música, mesmo quando Jagger “grita” - e, já agora, também o saxofone de Mel Collins soa fantástico. É portanto um prazer ouvir todas as subtilezas dos Stones neste Classic, sendo impossível não sentir saudades de quando se gravava sem cliques e auto-tunes e a música era lançada com todas as imperfeições humanas.

Foto 5 M2Tech Classic Amp

Para terminar, e porque Paul Thomas Anderson está de novo na berra, com a estreia de Battle After Battle, resolvi reouvir a magnífica banda-sonora de Punch Drunk Love, composta por Jon Brion (se acha que Adam Sandler só faz maus filmes, recomenda-se muito a visualização deste) - uma boa forma de testar melhor as capacidades espaciais do Classic. Um músico muito difícil de categorizar, pela sua muita versatilidade, Brion é parte decisiva para o filme, sendo difícil imaginar que Punch Drunk Love fosse um filme tão bom sem estes temas (recomenda-se, para os amantes de música, a visualização do vídeo em baixo, com a participação de Brad Mehldau e de Elliott Smith no Jon Brion Show). O M2Tech não se envergonhou e mostrou muito boas qualidades, particularmente em Le Petit Chateau, com um palco grande e imersivo, boa reprodução de dinâmicas e timbres realistas. Já em Waikiki, o tema havaiano low-fi desta ecléctica banda sonora, fica claro que o M2Tech não é demasiado cruel com temas (propositadamente, neste caso) mais mal gravados. Em He Needs Me, tema de Harry Nilsson (com voz de Shelley Duvall) remisturado por Jon Brion, a voz suave, quase infantil, de Shelley soa embaladora, com os arranjos de cordas acrescentados por Brion a serem reproduzidos sempre «nas traseiras», sem nunca se sobreporem à voz de Shelley (mérito não só do Classic, mas também da produção, claro). Mais uma vez notei que o Classic soa substancialmente melhor bem «puxado», mostrando aí todas as suas qualidades.
Brad Mehldau e Elliott Smith no Jon Brion Show


Conclusão


Já o disse mais vezes, não é fácil escrever sobre amplificadores a transístores no século XXI - a tecnologia tem evoluído muito e a maioria destes produtos vão alternando maioritariamente entre a total neutralidade e o «warm side of neutral, ou seja, neutro com um pequeno toque de calor, suavizando sobretudo os transientes (o que é o caso aqui e que se agradece). Isso significa que, mais do que olhar para o que um produto faz bem, podemos tentar olhar para o que faz mal - e, para a gama de preço em que se encontra, o Classic é um produto difícil de criticar. Tem uma resposta de frequência a direito, um palco correcto (pequeno quando deve ser pequeno e grande quando deve ser grande), bons transientes (presentes mas não demasiado presentes) e não consegui discernir distorção ou ruído audível - e também não consegui encontrar medições (que os fabricantes devem também começar a publicar, já agora), para confirmar as minhas subjectivas impressões. Claro que, quem precisar de mais potência, e alguns altifalantes ou salas podem pedir isso, terá de buscar outro produto. E já ouvi amplificadores mais compostos ritmicamente (com maior separação e maior coesão entre os instrumentos, simultaneamente) e com timbres mais realistas, mas isso foi em gamas de preço bastante acima do M2Tech - não sendo portanto justo pedir mais ao muito que o Classic já faz. Existe, como já referi acima, a questão de soar melhor com o volume bem puxado, o que não acontece com outros produtos e que pode desaconselhar o seu uso em sistemas mais íntimos / minimalistas.

Foto 6 M2Tech Classic Amp

Também já o escrevi aqui mais do que uma vez e mais uma vez o repito - parece-me que o mercado de amplificadores se dirige para produtos ou «tudo em um» ou «100% analógicos», sendo eu um particular fã e defensor da segunda hipótese, a partir de uma certa gama de preço (na base do mercado, os «tudo em um» fazem muito sentido). O digital e o analógico avançam a velocidades muito diferentes, e um bom amplificador analógico hoje sê-lo-á daqui a vinte anos, mesmo que a tecnologia vá evoluindo - e ao preço acessível a que estão os bons streamers, como os Wattson da Ajasom (que testei recentemente), creio que a melhor estratégia de valor passa mesmo por separar totalmente o analógico e o digital. E este Classic da M2Tech é uma das opções mais interessantes que já ouvi neste segmento dos integrados totalmente mais analógicos, tendo soado sempre não apenas irrepreensível tecnicamente (boa frequência de resposta, sem picos ou afundamentos evidentes, bons transientes e bons timbres, e sem distorção ou ruído aparente) mas também com boa ligação emocional à música (o tal «warm side of neutral»), sem vestígios de soar «frio», algo tão comum nos amplificadores a transístores nos dias de hoje) e com muito pouco cansaço auditivo introduzido, mesmo em escutas mais prolongadas. Apesar dos números de potência serem algo conservadores, não senti qualquer falta de «sumo» nas minhas KEF LS50, e parece-me que alimentarão sem dificuldade colunas com impedâncias e sensibilidades que não sejam particularmente difíceis, em salas de dimensão pequena ou média. Para quem busque um integrado elegante, completamente analógico e com um som muito difícil de criticar, este M2Tech deve ser escutado - com uma escolha cuidada de streamer ou gira-discos como precedentes e de colunas como procedentes, pode ser um parceiro para as próximas décadas, por ser apenas analógico, e mais do que justifica uma audição atenta na Ajasom.


Amplificador integrado M2Tech Classic

Preço         4899 €
Contacto   Ajasom