B&W 703 S3

Leonel Garcia Marques

15 julho 2023

Floorstanding in the Shoulders of Giants
Umas colunas realisticamente utópicas para audiófilos sem bolsos grandes

No jazz, temos o excelente Harry Allen, acompanhado pelo trio de Bill Charlap, a interpretar os grandes temas da orquestra de Ellington, com a curiosidade dos temas terem sido seleccionados pelos leitores da Swing Journal, uma publicação japonesa criada no pós-guerra. Os arranjos para quarteto mantiveram a subtileza e a complexidade dos temas e até a sua natureza orquestral. A reprodução exibe todo o dinamismo e swing da gravação, preservando a dimensão emotiva, a vivacidade do trio de Charlap e inventividade desconcertante de Allen em todas nuances do seu timbre e dos seus solos muito complexos. Excelentes, o palco sonoro e a transparência. A seguir temos a gravação ao vivo de Dex com os míticos Tete Monteliu (o pianista catalão), e os dinamarqueses NHǾP (no contrabaixo) e Alex Riel (na bateria). Gravação entusiasmante, com um Dex imparável em diálogos e reflexões cheios de saber viver e de vida, com o trio a manter a coerência e o swing ao longo do percurso sinuoso de Dex. As 703 S3 mostraram grande proximidade e presença, enchendo a sala para nos colocar bem no cento do quarteto e experienciar a música sem truques ou intrusões, deixando-me apreciar todo o que o jazz tem de verdadeiro, sem causar fadiga e sem estridências.

No rock, melhor dizendo na chamada corrente Americana, comecemos pela nova gravação dos irmãos Timmins, os Cowboy Junkies, uma abordagem que continua tão válida como nas famosas Trinity Sessions de 1988. A voz de Margo continua mágica, expressiva e sombria e assim continuam as composições dos Timmins. As 703 S3 souberam não desperdiçar um grão que fosse da voz de Margo, recriando o ambiente sombrio e sofrido, mas também mágico e lírico, da banda. Excelente, a reprodução das guitarras acústicas, mas também sabendo ser o veículo adequado da potência e da acidez da legião eléctrica, quando foi o caso. Mais uma vez, grande palco sonoro e presença, grande separação de timbres. Finalmente, o regresso da grande mestre da Americana, Lucinda Williams. Esta é uma gravação de originais, coisa que acontecia desde o seu AVC em 2020 (embora, entretanto, já tenha gravado uma sucessão de discos de covers, a Jukebox Collection). A voz continua expressiva, irónica, desiludida, verdadeira. E as novas composições mantêm a supremacia de Williams na Americana. As 703 S3 souberam alcançar a reprodução exacta e musical da voz inimitável de Williams, do bordado eléctrico das guitarras e da atmosfera descontraída e íntima da gravação. Uma vez mais, grande palco sonoro, grande presença, grande envolvência do ouvinte.

Conclusão


Gostei bastante da energia pura, da riqueza de detalhes, da extensão do palco sonoro das 703 S3. Médios de grande musicalidade, e o Solid Body Tweeter-on-Top (o mesmo da gama 800) faz-se sentir em subtileza e discriminação de timbres. A transparência e neutralidade são outras qualidades indesmentíveis. E a flexibilidade para lidar com todos os estilos musicais, mantendo-se sempre no mesmo plano de qualidade é a cereja em cima do bolo.
E a comparação entre as B&W 703 S3 e as 705 S2 (custando as últimas na sua versão S3 quase metade do preço)? Existem muitas semelhanças no desempenho sonoro, mas a maior presença, a maior extensão do palco sonoro e a maior articulação e definição dos baixos, deixam as B&W 703 S3 num patamar de qualidade bem acima das 705 S2. Dada a diferença de preço, diria que a opção se deve pautar pelas dimensões da sala de audição, sendo as 703 S3 nitidamente superiores para salas grandes, com as diferenças entre os dois modelos a encolher com o tamanho da sala.
De qualquer, enquanto colunas de chão e nesta gama de preços, as B&W 703 S3 são, para mim, impossíveis de ignorar.

Colunas B&W   703 S3
Preço               5000 €
Distribuidor B&W Group Spain