
Um punho de ferro dentro de umas luvas de veludo.
Audições
O Performer s1200 foi inserido no meu sistema habitual, formado pelo conjunto de electrónica Inspiration 1.0, da Constellation, tendo como fonte digital o Roon Nucleus Plus, alimentado pela fonte de alimentação Ferrum Hypsos, com o iFi Audio Pro iDSD como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as Diptyque DP 140MkII, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber, com o AudioQuest Thunderbird ligado entre o iFi Audio Pro DSD e o prévio da Constellation. Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, sendo o amplificador de potência da Constellation alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A. O Silent Power LAN iPurifier Pro, acompanhado pelo cabo de Ethernet AudioQuest Cinnamon, tomou conta das ligações à Internet. Claro que a inclusão do s1200 no sistema fez-se passando ele a desempenhar as funções do amplificador de potência do conjunto Constellation Inspiration 1.0. O s1200 foi utilizada através das entradas balanceadas, demonstrando uma compatibilidade perfeita, como seria de esperar, em face do valor quase perfeito do ganho (26 dB), com o nível de saída do prévio da Constellation.

Antes de mais, gostaria de deixar aqui uma chamada de atenção: quando pensamos em amplificadores de determinados níveis de potência, relativamente elevados, temos tendência a começar a pensar em algo cheio de energia, pronto para grandes arrojos dinâmicos, mas que pode não estar também ao mesmo nível no que se refere às nuances mais subtis da música, faltando-lhe o tal golpe de rins que permite que se passe de um domínio para o outro. Não é de modo nenhum o que se passa com o SPL s1200 e para provar isso bastou a audição de música que vou referir em seguida, uma interpretação por Tete Montoliu de Giant Steps, de John Coltrane, que consta do álbum Tete. Montoliu era um pianista basco, cego de nascença, e que começou a aprender música por Braille aos sete anos, tendo ganho um grande reconhecimento nos anos sessenta e setenta. Há várias gravações disponíveis das interpretações do seu trio que vai mudando de composição, mas neste álbum ele toca em conjunto com Richard Niels Pedersen no contrabaixo e Albert “Tootie” Heath na bateria. Gostei na altura bastante dos seus álbuns Catalonian Nights Vol. 1 e Vol. 2 mas, por um variado número de razões, deixei de ou ouvir durante anos. Regressei a ele através do álbum acima mencionado e a faixa Giant Steps foi bem ilustrativa do modo como o amplificador de potência da SPL consegue não só manter uma batida bem forte e presente mas igualmente transportar até ao ouvinte a emoção, todo o fogo e paixão, que Tete colocava nas suas interpretações. A gravação utilizou microfones colocados bem perto dos instrumentos e ao transmitir tudo aquilo que os músicos colocaram em termos de empenho e gozo na sua interpretação da música somos quase que transportados para o palco, isto apesar de algumas ligeiras limitações da gravação, não obstante ter sido efectuada nos estúdios Rosenberg, em Copenhaga. Mas o detalhe captado era de grande qualidade e quantidade e no sistema onde foi inserido o s1200 quase que me fez visualizar pormenores tais como os movimentos dos pedais e mesmo das cadeiras em que os músicos estavam sentados. Sentia-se dinâmica a rodos, nas mais diversas bandas de frequência, sempre com uma perfeita reprodução das pistas de localização espacial em termos tridimensionais.

Menciono agora um outro álbum pouco «convencional», o Gipsy Dances, da pianista Miriam Conti Vanoni, e que contém um programa de vivas e alegres danças espanholas, com uma forte componente de flamenco. Trata-se de uma gravação muito limpa que coloca o piano e a solista ali mesmo na nossa frente, quase em cima do nariz. O s1200 está como peixe na água perante tanta informação musical e espacial e prenda-nos com uma audição intimista em que nos sentimos donos de cada nuance da performance, quase como que experimentando fisicamente a energia libertada na altura no estúdio de gravação. As quase permanentes transições dinâmicas rápidas e plenas de energia fazendo-nos sentir vontade de «entrar na roda» e dançar. A informação espacial em profundidade e em termos laterais e a focagem da intérprete eram de maneira a quase conseguir visualizar quer esta quer o instrumento musical, e as cambiantes dos movimentos das mãos nas várias zonas do teclado do piano foram reproduzidas de maneira perfeita.
Porque não voltar agora a um clássico? Pois fui buscar Mark Knopfler e a sua interpretação de Father and Son, constante no álbum Cal, com música do filme com o mesmo nome. Todo o álbum está cheio de verdadeiros malabarismos musicais em tronos da música folk irlandesa, tendo os Dire Straits sido complementados por Paul Brady e Liam O’Fynn. O resultado é sublime, com camadas e camadas de melancolia e trazendo até nós imagens bem vivas dos prados irlandeses cobertos por um nevoeiro que quase queremos afastar com as mãos, tal o realismo com que o s1200 reproduz esta música tão bonita e mesmo bem longa (quase 7 minutos na versão completa, mas que parece acabar num instante tal é o envolvimento em que estamos imersos.
Os graves reproduzidos pelo amplificador da SPL são sempre articulados, extensos e bem robustos sempre que a música o exige, tal como aconteceu, por exemplo, em Superstition, um interpretação ao vivo de Jeff Beck. O controlo absoluto estava sempre lá, nunca houve a mínima sensação de que o grave tentava ir «brincar» com a gama média, antes pelo contrário, cada um estava no seu lugar e cada um ajudava a realçar a qualidade da interpretação do intérprete em causa em função do instrumento a ser utilizado ou da zona do instrumento a ser utilizada. Bem bonito e mesmo entusiasmante de ouvir.

Conclusão
Costuma dizer-se que tamanho não é documento, quando se fala de coisas pequenas que se comportam em grande. Vou virar um pouco essa locução e adaptá-la ao caso em epígrafe, ou seja ao desempenho do s1200: dentro de umas dimensões mais que razoáveis este amplificador inclui um nível de energia máxima de respeito, 300 W não são brincadeira. Pois olhem que não foi isso que me impressionou mais, talvez porque o s1200 é uma «máquina» bem consciente do seu valor e sabe que não precisa de «fazer muito barulho» para impressionar. E impressiona exactamente no bom sentido: está sempre imperturbável qualquer que seja o tipo de música que lhe estejamos a pedir para reproduzir, mantendo-se sereno, calmo mas sempre com um controlo absoluto sobre o processo musical em curso. Saber segurar umas colunas sem fazer qualquer esforço, mas também tem o golpe de rins necessário para as fazer dançar na nossa frente com um ritmo inebriante e uma correcção tímbrica que impressiona. Eis aqui uma pequena jóia que bem merece maior divulgação.
Amplificador de potência SPL Performer s1200
Preço 5283,74 €
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