Será que a macroeconomia também está contra a indústria de áudio?
Conforme li na CNBC esta manhã, no seu relatório trimestral a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) disse que viu os seus negócios serem afectados por ventos contrários provenientes da macroeconomia “os quais amorteceram a procura do mercado final e levaram a ajustes contínuos de stock do lado dos clientes”. Este é o primeiro declínio no lucro líquido trimestral da empresa desde o segundo trimestre de 2019.
Isso é extremamente relevante, considerando que a TSMC é o maior fabricante dos processadores mais avançados do mundo, incluindo os chips encontrados nos dispositivos mais recentes da Apple, e a TSMC diz claramente que “a procura por electrónica de consumo baixou bastante no período pós-pandemia”.
João Martins é o responsável editorial pelo grupo editorial KCK Media, o qual publica revistas tais como a audioXpress, a Voice Coil e ainda a newsletter semanal The Audio Voice, da qual este artigo foi traduzido com a sua autorização expressa.
Os chips que esta empresa fabrica são usados principalmente em smartphones, tablets e computadores portáteis, e a TSMC confirma que “a procura global por portáteis e smartphones aumentou durante os bloqueios da COVID-19, estimulando os fabricantes de smartphones e computadores a aumentarem os seus stocks de chips. Agora essas empresas estão a lutar contra o excesso de stocks, pois os consumidores reduziram as compras desses produtos devido ao aumento da inflação. Daí resultou um abaixamento dos preços dos chips.”
Obs.: A montanha russa da procura e da oferta. Excessos de inventário.
Para obter mais informações, vamos examinar uma fonte de dados específica para computadores, a International Data Corp. (IDC). Na sua análise Quarter Global PC Shipments esta organização afirma que “o enfraquecimento da procura global fez com que os níveis de stock permanecessem acima do normal por mais tempo do que o esperado, o que se aplica tanto a sistemas finais ao nível do canal, como à cadeia de fornecimento”. A IDC confirma que “nenhum fabricante de PCs ficou imune aos desafios apresentados pelo mercado”: com excepção da Apple e da HP, “todas as empresas líderes nos seus segmentos de mercado registaram quedas de vendas ao nível de dois dígitos durante o trimestre. Mas a Apple foi beneficiada com a comparação ano para ano, pois a empresa sofreu problemas de abastecimento durante o segundo trimestre de 2022 devido a paralisações relacionadas com a COVID na cadeia de abastecimento. Enquanto isso, a HP enfrentou um excesso de stock no ano passado e está finalmente a aproximar-se dos níveis normalizados de stock, o que permite que o seu ritmo de crescimento brilhe durante esta recessão mais ou menos geral.
Obs: Níveis de stock acima do normal.
E vamos olhar agora para o panorama dos smartphones através de uma outra fonte especializada nesse segmento, a Counterpoint Research. No seu último Relatório para o segundo trimestre de 2023, esta empresa de análises de mercado afirma que as vendas globais de smartphones estão a cair pelo oitavo trimestre consecutivo: “As vendas globais de smartphones caíram 8% em relação ao ano anterior e 5% em termos de trimestres equivalentes no segundo trimestre de 2023.” A Samsung liderou o trimestre e a Apple ficou em segundo lugar, com a sua participação a crescer para 17%, apesar dos factores sazonais desfavoráveis. “A procura do segmento premium permaneceu resiliente, com a participação do segmento a atingir um recorde no segundo trimestre”, afirma a Counterpoint.
Curiosamente, a Apple está a “atingir participações recordes em vários mercados novos, que normalmente não são considerados os seus mercados principais. Um excelente exemplo disto é a Índia, onde a marca cresceu 50% no segundo trimestre de 2023, comparativamente com o trimestre equivalente de 2022. O forte desempenho contínuo do segmento premium garantiu que as receitas não sofressem tanto como as vendas em volume, e é por isso que as marcas estão investindo na expansão do mercado e na inovação em novas tecnologias.”
Nota: A procura do segmento premium permaneceu resiliente.
Finalmente, vamos olhar para a categoria geral de semicondutores. Nesse caso, o recurso será a Yole Intelligence, parte do Yole Group, que relata no seu estudo Semiconductor Equipment Subsystems Market Monitor, que “Embora o primeiro trimestre de 2023 tenha experimentado uma correcção significativa do mercado, estão a surgir sinais de recuperação ao virar da esquina.”
De acordo com a Yole, “a dimensão global do mercado atingiu 46 mil milhões de dólares US em 2022, com os subsistemas dominando a participação de mercado numa percentagem de 50%, seguidos dos módulos com 34% e dos componentes com 16%”. E, aparentemente, o panorama nesta categoria está mais favorável. “Apesar de enfrentarem desafios no final de 2022 e no primeiro trimestre de 2023, os fornecedores alcançaram um crescimento notável global nos últimos quatro anos.”
E esses relatórios confirmam que “o primeiro trimestre de 2023 apresentou desafios significativos” devido aos “elevados níveis de stock nos fabricantes OEM”, o que levou a “um declínio acentuado nas entradas de pedidos durante esse trimestre”. A expectativa é que os pedidos aumentem gradualmente ao longo do resto do ano, impulsionados pela “antecipação para 2024, um ano que tem potencial para se confirmar como o início de um novo ciclo plurianual de crescimento…”
Nota: Recuperação ao virar da esquina.