José Francisco Júdice

Jorge Gonçalves

31 julho 2023

Desapareceu um dos fundadores da Audio

Decididamente 2023 não está a ser um ano fácil para mim. Não há muito tempo tive a notícia da partida de João Cancela e hoje, há poucos minutos, recebo a notícia de que um dos fundadores da Audio e amigo sincero tinha falecido.


O Júdice, como foi sempre tratado por todos nós na Audio, era daquelas pessoas genuinamente boas, não daqueles que só ganham qualidades quando desaparecem. Tinha um feitio tímido e calmo que desarmava qualquer um e tornava impossível zangarmo-nos com ele. Aliás, disse-o por várias vezes, uma sociedade tem que ter pelo menos dois sócios e não podia ter havido melhor sócio a começar a Audio que o Júdice, ou José Francisco, como outros o tratavam. Tudo para ele estava bem, nunca o vi zangado, não havia dificuldade nenhuma em partir para qualquer projecto arriscado tal como o foi, por exemplo, o lançamento do primeiro Audioshow em 1990.


Uma reunião com o Júdice tornava-se interessante quando ele começava a coçar a cabeça e olhava para os restantes presentes com um ar de quem pensa: Mas vocês vão-se meter nisto? Mas este momento era rapidamente ultrapassado e partia-se para o mãos à obra. Os momentos próximos do fecho de cada edição eram de grande sofrimento para o Júdice pois quer eu quer o JVH entregávamos os nossos textos dentro do ritmo acordado e ele ficava sempre até ao fim a «espremer as meninges», como ele dizia, pois acabar um texto era sempre tormentoso e o comentário que lhe saía era algo do género: não sei como é que vocês escrevem 3 e 4 textos quando eu para fazer um sofro que me farto!


Por decisão própria, o Júdice decidiu partir para outras aventuras e fundou a Audioelite logo no final do segundo ano de existência da Audio mas foi novamente uma saída calma e sem alguma vez ter sido suscitada qualquer questão – fizeram-se as contas e amigos como sempre. Há mais ou menos 7 a 8 anos a Audioelite mudou de mãos e o Júdice mudou-se para o Algarve quase em definitivo para cuidar da mãe e gerir o património familiar. Os nossos contactos passaram a ser algo mais espaçados mas nunca menos cordiais, fraternos até.


É uma pena imensa ver partir alguém com quem partilhámos tantos momentos, agradáveis uns, menos agradáveis outros e recordo-me por exemplo, de uma famosa viagem ao Norte em que fomos visitar alguns clientes já existentes na Audio e tentar conquistar outros, e que se traduziu em mais de 600 quilómetros recheados de boa deposição, de comentários assertivos e por vezes um pouco mordazes, mas nunca maldosos, por parte do Júdice.
Aqui onde estou neste momento não tenho acesso a todo o arquivo da Audio mas deixo-vos aqui, como profunda homenagem, duas páginas obtidas por scan directo da Audio 200, com o texto que o Júdice escreveu para essa edição especial. Estas páginas podem ser descarregadas através dos links que se seguem às imagens.


Repousa em paz, meu amigo, que bem o mereces.

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