Responsáveis de topo da Accuphase visitam a Ultimate Audio.
A Ultimate Audio recebeu recentemente a visita de uma comitiva ilustre da Accuphase, nas pessoas dos senhores Mark M. Suzuki, presidente e engenheiro, Takaya Inokuma, director executivo e engenheiro e Tatsuki Tozuka, director de vendas. Tive oportunidade de passar algumas horas bem agradáveis com eles num final de dia, e trocar impressões sobre alguns aspectos ligados a uma das marcas mais icónicas do High-End.
Sim, de facto, pode dizer-se que a Accuphase nasce com o High-End, pois a empresa Kensonic Laboratory foi fundada em 1972, mais ou menos na mesma altura em que a revista Absolute Sounds começou a utilizar o termo para designar equipamentos de alta qualidade com elevado desempenho em termos de áudio. Os fundadores foram os irmãos Kasuga, os quais deixaram a Trio-Kenwood, a marca de alta qualidade da Kenwood, para começar uma nova iniciativa dedicada à qualidade pura. Os primeiros produtos foram lançados no mercado sob o nome Accuphase em 1973 e dez anos depois a Kensonic passou a assumir o nome da marca em si para a designação da empresa. O Sr. Suzuki está há 44 anos na Accuphase e acompanhou quase a totalidade do seu percurso, tendo sido o responsável pelo desenvolvimento dos DACs discretos incluídos no leitor de CD DP-80L e no conversor separado DP-81L – durante anos a Accuphase desenhou os seus próprios DACs utilizando componentes discretos, ou seja, não recorria aos circuitos integrados disponíveis no mercado.
Um dos aspectos que despertou curiosidade em muitos conhecedores da marca foi o lançamento em 2020 de dois equipamentos ditos comemorativos dos 50 anos da marca, o préamplificador C-3900S e o amplificador integrado E-800S, quando tal, em termos de calendário, deveria ter acontecido em 2022. O Sr. Suzuki esclareceu de maneira muito simples que a empresa tem uma dimensão reduzida e que os tempos de planeamento em geral são longos pelo que começam a pensar em novos produtos com grande antecipação. E acontece que por vezes tal avanço permite-lhes ter alguns equipamentos disponíveis um pouco antes da data prevista e não faria sentido que eles se mantivessem completamente prontos mas parados durante dois anos em termos de produção. Aliás, o lançamento de produtos comemorativos do aniversário continuou ao longo do tempo tendo, por exemplo, sido introduzidos no mercado em 2024 mais dois produtos, o prévio C-2300 e o amplificador de classe A A-80, um descendente directo do A-300. Em tom de brincadeira, perguntei ao Sr. Suzuki se estaria já a ser preparado algo especial para os 60 anos e ele riu-se e respondeu apenas – pode contar com isso!
O facto de a Accuphase não ter no seu portfólio um streamer é algo que tem dado seguramente origem a muitas perguntas e eu não pude deixar de colocar a questão. A resposta faz todo o sentido pois segue a filosofia da marca de lançar produtos feitos no Japão, de elevada performance e que se mantenham como referências nessa área por mais de uma dezena de anos. Ora, um streamer é talvez um dos equipamentos de áudio que terá necessariamente de sofrer mais mudanças no mero período de um ano, seja em termos de topologia electrónica seja no que tem a ver com o software. Por isso a marca aposta em disponibilizar no mercado conversores D/A de elevadíssima qualidade, deixando a outros a tarefa de apresentar os streamers. Aliás, posso deixar aqui a novidade de que muito em breve vamos ter no mercado um novo leitor CD/SACD topo de gama.
Uma vez que actualmente os leitores de CD/SACD e conversores utilizam DACs de fabricantes consagrados no mercado, isso significa que a Accuphase está em diálogo permanente com os melhores fabricantes, nomeadamente a ESS Sabre e a AKM para avaliar o nível de desempenho das suas propostas. Para já, a opinião da Accuphase é a de que os conversores D/A da AKM ainda têm uma performance ligeiramente abaixo dos da ESS. Como sou um apaixonado pelo hardware achei oportuno levantar a questão da influência do uso cada vez maior de componentes SMD, sem terminais de ligação, bem como da dificuldade em encontrar hoje em dia MOSFETs de qualidade porque quase todos os fabricantes se viraram para as versões para fontes de alimentação comutadas e esqueceram a optimização destes componentes para utilizações em áudio. No que se refere a componentes SMD o Sr. Tozuka confirmou que é muito difícil estabelecer níveis de qualidade rígidos porque a produção muda quase de dia para dia e a única solução é comprar um número razoável de componentes, seleccionar os que garantem as melhores performances e estabelecer laços muito próximos com os fabricantes para saberem quando é que a linha de produção relativa aos componentes que foram seleccionados vai mudar para poderem comprar em avanço um número suficiente deles que garanta a qualidade durante um período razoável de produção do equipamento em que eles são utilizados. Ao mesmo tempo mantêm sempre em stock um exemplar de produção que trabalhe nos níveis de referência estabelecidos e vão permanentemente comparando as novas produções com essa referência.
No que tem a ver com os MOSFETs a velha questão voltou à baila – quase toda a gente fabrica transístores MOS de canal N e torna-se muito difícil encontrar a versão complementar de canal P. Em termos de projecto electrónico isso cria dificuldades mas os engenheiros da Accuphase já sabem há algum tempo como dar a volta á situação: mantêm um excelente relacionamento com a Fairchild, compram em grandes quantidades e testam individualmente na fábrica. No que se refere a transístores bipolares de potência trabalham com a Toshiba/Sanken e sempre obtiveram os melhores resultados.
Perto do final, veio à baila a minha velha questão da distribuição dos níveis de ganho ao longo de uma sistema de áudio / cadeia de amplificação e que do meu lado tem sido um cavalo de batalha desde há alguns anos a esta parte. O Sr. Suzuki achou que era uma questão muito importante e a que eles estão atentos desde há alguns anos e por isso mesmo desenvolveram a tecnologia AAVA que realmente faz todo o sentido: em vez de amplificarem excessivamente um sinal de áudio, depois atenuá-lo através do controlo de volume e tornar a amplificá-lo, mesmo que pouco, no andar seguinte do préamplificador, aquilo que num prévio normal é o controlo de volume, no caso da Accuphase é um controlador de ganho. Deste modo o sinal é apenas amplificado no nível necessário para se ter o SPL que queremos nas colunas e não há atenuação pelo meio, algo que pode alterar em termos absolutos o equilíbrio dinâmico da música. Ao mesmo tempo, a Accuphase nunca foi adepta de níveis de tensão tais como 4 V, e mesmo 8 V, na saída das suas fontes – normalizaram todos os níveis de linha em 2,5 V e é assim que trabalham.
Da esquerda para a direita: Jorge Gonçalves, Takaya Inokuma, Tatsuki Tozuka, Mark M. Suzuki.
A finalizar, o Sr. Suzuki deixou a confirmação de que a Accuphase não pretende que cada novo produto lançado seja muito melhor que o anterior e o coloque completamente de lado – a intenção é que sejam sempre mantidos os elevados níveis de qualidade de construção e performance que definem desde o primeiro dia para cada produto que sai da fábrica. E sempre que reclamam alguma melhoria ela é confirmada através de especificações e gráficos de medição enviados a todos os distribuidores mundiais. Que melhor conclusão se poderia ter para uma conversa tão agradável e elucidativa do meu ponto de vista e que, ao que sei, teve a mesma apreciação do outro lado?